Brics chega ao Rio esvaziado e mira comércio e meio ambiente

RIO DE JANEIRO, 5 JUL (ANSA) – Por Lucas Rizzi – A cúpula de chefes de Estado do Brics começa neste domingo (6), no Rio de Janeiro, esvaziada pela ausência de líderes do quilate dos presidentes da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir Putin, o que deve fazer o Brasil apostar em temas seguros, como cooperação comercial e ambiental, para assegurar um resultado positivo na reunião.   

Segundo especialistas ouvidos pela ANSA, o encontro de 6 e 7 de julho não deve produzir avanços significativos, mas pode servir para o grupo mostrar capacidade de articulação diante de um contexto internacional chacoalhado por guerras e pelos tarifaços de Donald Trump.   

“O principal objetivo deve ser mostrar que, mesmo em um cenário de tensões geopolíticas, o Brics continua sendo um espaço relevante de articulação do Sul Global e que o Brasil tem capacidade de liderar com equilíbrio”, disse Laerte Apolinário Júnior, professor de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).   

Para o docente, as ausências de Xi, explicada de forma pouco convincente por Pequim, e Putin, motivada pelo mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI), prejudicam a visibilidade internacional da cúpula, mas podem abrir espaço para o Brasil assumir maior protagonismo no Brics, inclusive de olho na COP30 de Belém, que é o grande foco da diplomacia brasileira em 2025.   

“Um tema muito caro ao Brasil é o financiamento ambiental, e provavelmente o Brasil vai tentar trazer esse tema, que se encontra um pouco esvaziado, para fortalecer seu papel como ator relevante nas questões climáticas”, salientou Fernanda Brandão Martins, professora da Faculdade Mackenzie Rio e doutora em relações internacionais, acrescentando, por outro lado, que não são esperados “compromissos muito ambiciosos” nessa área.   

Outro ponto importante na pauta do Brics é o fortalecimento da cooperação comercial e da autonomia financeira dos membros do grupo, que, além de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, ganhou recentemente a adesão de Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes, Etiópia, Indonésia e Irã – este último também não mandará seu presidente, Masoud Pezeshkian.   

Isso em um momento em que os Estados Unidos atuam para desagregar o sistema de integração econômica que eles próprios patrocinaram, aumentando a urgência de temas como o uso de moedas locais em substituição ao dólar – o que já rendeu até ameaças de Trump -, a criação de um sistema de pagamento alternativo ao Swift e o fortalecimento do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), chefiado por Dilma Rousseff.   

“O comércio intra-Brics sempre esteve presente nas cúpulas porque cada país tem um fluxo intenso com a China. O que não se tem muito desenvolvido é o comércio entre os outros Estados do Brics”, diz Evandro Menezes de Carvalho, doutor em relações internacionais e professor da FGV Direito Rio, destacando que a utilização de moedas locais “é um tema inevitável e não vai recuar”.   

“Há um consenso nesse sentido, sobretudo com a política externa do Trump, que acaba tornando essa agenda prioritária”, ressalta.   

Atenção menor deve ser dedicada às guerras da Ucrânia, iniciada pela Rússia, e a do Oriente Médio, que arrastou o Irã durante 12 dias no mês passado. “São temas de altíssima complexidade, nos quais os diversos países têm suas considerações, então não é fácil gerar convergência.   

Provavelmente vai haver alguma declaração apoiando a defesa do direito internacional, mas me parece ser o momento de não colocar mais lenha na fogueira”, declarou Carvalho. (ANSA).