A BRF, uma das maiores empresas de alimentos do mundo, anunciou ontem um plano de crescimento para os próximos dez anos que abrange uma série de transformações para levar a companhia à liderança do mercado de industrializados. Dentre elas, a consolidação da empresa no segmento de produtos com alto valor agregado, a ampliação na participação do mercado de pratos prontos, a diversificação de canais e a expansão internacional. Para isso, até 2030, a companhia pretende investir mais de R$ 55 bilhões e espera alcançar uma receita anual superior a R$ 100 bilhões na próxima década. Em 2019, o faturamento da BRF foi de R$ 33,5 bilhões.

Com o anúncio, as ações ON (com direito a voto) da companhia fecharam o dia com alta de quase 9% (+8,69%).

As ambições da empresa caminham lado a lado com as novas tendências de consumo, em parte evidenciadas pelo maior tempo dos consumidores dentro de suas casas por causa da pandemia do coronavírus. A previsão da BRF é aumentar a parcela do portfólio com alimentos industrializados de 50% para mais de 70%. “Nós colocamos o consumidor como o nosso foco e vamos continuar trabalhando para conhecê-lo e antecipar novas demandas”, disse o presidente da companhia, Lorival Luz, em entrevista ao Estadão/Broadcast Agro.

No âmbito internacional, o mote é a diversificação geográfica, com o estabelecimento de novas bases de produção da BRF, disse o vice-presidente de Mercado Internacional da empresa, Patrício Rohner, durante o evento do anúncio. Embora a companhia já tenha definido quais serão os novos países em que vai atuar nos próximos dez anos, o executivo afirmou que três regiões chamam a atenção: América do Norte, Europa e África. Ele também reforçou que o principal mercado da empresa no exterior continua sendo o de produtos halal, que seguem preceitos islâmicos de produção e abate.

Carne suína

Os próximos passos no Brasil envolvem a modernização e adequação das fábricas já existentes, com o objetivo de expandir a capacidade produtiva e diversificar a produção nas unidades. Parte do foco no segmento de maior valor agregado está em produtos feitos com carne suína, proteína que representa oportunidades importantes de crescimento para a BRF, segundo o diretor vice-presidente do mercado Brasil da empresa, Sidney Manzaro.

De acordo com o executivo, nos últimos cinco anos, o consumo per capita de carne suína anual no País cresceu de 10 kg para 15 kg, e essa tendência deve se manter. “A carne suína é a proteína animal mais consumida no mundo. E Estados Unidos e Europa, por exemplo, consomem o dobro per capita do que o Brasil. Portanto, vemos nesse mercado uma oportunidade grande de crescer, levando em conta também que é um produto saboroso e tem custo-benefício maior do que no caso da carne bovina”, disse.

A segunda oportunidade, na avaliação de Manzaro, é o fato de o maior volume de carne suína ainda ser oferecido ao consumidor na forma in natura, com uma parcela incipiente do mercado de valor agregado. “Nem 10% das vendas de suínos hoje são de produtos de maior valor agregado, mas dentro desse pequeno mercado nós já temos 26% de market share, com a Sadia e a Perdigão, o que nos faz líderes.”

Substitutos da carne

Outro mercado em expansão e que a BRF pretende liderar nos próximos dez anos é o de substitutos de carne (produtos à base de plantas, como os hambúrgueres vegetais), afirma o presidente da companhia. Segundo Luz, porém, é um segmento que está em constante transformação e ainda possui alguns desafios antes de deslanchar no Brasil. “Esse mercado só vai crescer, de fato, na hora que for definida uma tecnologia mais adequada, que permita uma penetração maior desses produtos e popularização do acesso aos consumidores”, explica o executivo.

Luz ressaltou que a estratégia é investir em tecnologia para diminuir os custos de produção, mas também desenvolver novos produtos que tenham qualidade em sabor e textura. “Precisamos continuar acompanhando e crescendo com o segmento para conseguirmos liderar essa produção.”

Canais de venda

A proximidade com o consumidor também tem na pauta a diversificação de canais de venda, que está diretamente ligada à transformação digital da empresa, destaca Manzaro. O diretor vice-presidente do mercado Brasil destacou a atuação da empresa no ambiente digital em parceria com as principais redes de varejo, além de opções como os aplicativos Rappi e iFood.

Ainda nessa linha, há o site Mercato em Casa, que atende de forma online os consumidores e será expandido para lojas físicas. A primeira loja modelo foi inaugurada há uma semana em São Paulo, batizada de Mercato Sadia, e até o fim deste ano a empresa vai inaugurar 100 lojas dentro de supermercados. “No ano que vem, vamos fazer isso em mais 500 lojas. É uma forma de a gente conhecer e aprender com o consumidor, aproveitando para ter ajuda nas inovações e no desenvolvimento do nosso portfólio.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.