O Brexit impactou em cheio nesta sexta-feira o fim da campanha eleitoral para as eleições de domingo na Espanha, onde a direita no poder se posicionou garantindo a estabilidade diante do partido anti-austeridade Podemos.

Quase todos os candidatos encerraram as duas semanas de campanha com comícios em Madri, exceto o socialista Pedro Sánchez, que o fez na Andaluzia, reduto tradicional do PSOE no sul do país.

Em uma quente noite de verão, milhares de espanhóis se reuniram para ouvi-los ao ar livre.

“Hoje há uma mensagem para todos os europeus e é uma mensagem muito clara (…), a Europa dos cortes sociais, a Europa que humilha os refugiados e não cumpre os direitos humanos não serve e não seduz”, disparou perto da meia-noite o líder do Podemos, Pablo Iglesias.

“É preciso apontar os responsáveis pelas políticas de austeridade pelo que são, os sepultadores do projeto europeu”, acrescentou ante uma multidão reunida no parque Madrid Río, enquanto lembrava seus vínculos com o movimento dos indignados.

A coalizão Unidos Podemos, formada com os ecológico-comunistas da Esquerda Unida, aspira a se impor como segunda força política, antecipando os socialistas.

Um avanço que desagrada o chefe de governo conservador em fim de mandato, Mariano Rajoy.

Diante dos grandes desafios que a saída britânica da União Europeia trará, “não é o momento para experiências”, assegurou em uma concentração maciça na praça Colón, em Madri.

“É particularmente importante transmitir uma mensagem de estabilidade institucional e econômica. Não são momentos para alimentar ou adicionar incerteza”, advertiu Rajoy.

Rajoy, no poder desde o final de 2011, cuidou para não nomear diretamente o Podemos, mas outros líderes de sua formação, o Partido Popular, se encarregaram de fazê-lo.

“Existem movimentos eurocéticos não só na direita, mas também na esquerda”, afirmou o ministro de Assuntos Exteriores, José Manuel García Margallo.

“Podemos disse milhares de vezes que teríamos que abandonar o euro porque não poderíamos viver com a política de austeridade que em seu julgamento supõe a participação de uma união monetária”, acrescentou.

Pouco depois, o PP lançava um novo vídeo eleitoral com imagens de arquivo do líder do Podemos, Pablo Iglesias, chamando a “tomar o controle da política monetária”.

Uma porta-voz do Podemos, contactada pela AFP, explicou que eram palavras pronunciadas em um programa de televisão em outubro de 2013, antes da criação do partido, em janeiro de 2014.

Hoje é “um dia triste para a Europa. Devemos mudar o rumo. De uma Europa justa e solidária ninguém quer sair. Temos que mudar a Europa”, escreveu Iglesias no Twitter.

A dois dias das eleições, ainda não se viu o impacto real do Brexit nos 36 milhões de eleitores convocados às urnas no domingo.

Na opinião do cientista político Pablo Simón, da Universidade Carlos III, uma situação de incerteza “tende a favorecer o partido no governo”. Entretanto, Sara Morais, do instituto de pesquisas GAD3, considera que o Brexit pode reforçar a polarização, beneficiando o Podemos e o PP.

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