Em política, quando os argentinos querem dizer que o candidato eleito tem discurso autêntico e até antagônico ao de seu antecessor, porém, suas práticas são as mesmas, eles expressam: “distinto, pero igual”. O termo serve para descrever a forma como Joe Biden está desenvolvendo a política externa norte-americana. Não há diferenças substanciais em relação ao que foi feito durante os quatro anos de Donald Trump na Casa Branca.

Trump, em seu nacionalismo que beirava a xenofobia, como um de seus primeiros atos na seara diplomática, assinou a ordem executiva que retirou os EUA do chamado: Tratado Transpacífico de Cooperação Econômica (TTP). O acordo costurado com empenho e algumas dificuldades por Obama, foi a resposta geoestratégica a nova rota da seda chinesa. O TTP reunia 40% da economia mundial, oitocentos milhões de consumidores espalhados por onze países: Japão, Austrália, Canadá, México, Peru, Chile, Vietnã, Nova Zelândia, Cingapura e Brunei, além, claro, dos EUA.

Nessa linha, o republicano também optou por pactos bilaterais dispensando o multilateralismo característico da política externa da era Obama. Donald Trump retirou o país do compromisso nuclear com o Irã, manteve e intensificou a política de sanções econômicas dos democratas, além de impor novas restrições ao redor do mundo. A China, atual rival, a Rússia, eterna concorrente, Venezuela e Cuba, antagonistas ideológicos dos EUA, foram os principais “contemplados”.

Trump, notório racista, separou famílias refugiadas, especialmente, filhos menores de idade de seus pais. Ele também deixou crianças em locais semelhantes a campos de concentração e promoveu deportações em massa.

Agora vamos a Biden. A pesar do discurso pacifista e agregador o quadragésimo sexto presidente dos EUA estabeleceu novas sanções aos persas, e manteve todas as outras. Atabalhoadamente retirou as tropas militares do Afeganistão, empreitada bélica e política que nem de longe melhorou a vida dos afegãos, especialmente as mulheres. Sobre os expatriados que tentam dia a dia entrar no país para tentar construir uma vida digna, Biden foi ainda mais cruel que Trump, já que seus guardas, montados a cavalo, foram vistos chicoteando os imigrantes na fronteira com o México. Em quase um ano de governo, Biden ainda não alterou a política externa norte-americana substancialmente em relação à América Latina, Oriente Médio, Leste europeu e a Ásia. Por enquanto, a expressão argentina se mostra correta, Biden e Trump são diferentes, porém iguais.