Uma irreverente cadeira dourada com formato de esqueleto e um sofá trançado com cores em degradê em alusão ao pôr do sol de Fernando de Noronha. Ao redor, um grande painel com as belezas desse arquipélago brasileiro e discos que pendem do teto e remetem ao pássaro mergulhão, nativo do paraíso pernambucano. É com esse espírito de brasilidade que o estande da “A Lot Of Brasil” se destaca no pavilhão 20 do Isaloni, o Salão Internacional do Móvel de Milão, maior evento mundial desse segmento do design. O espaço da marca brasileira, criada pelo designer Pedro Franco, se avizinha a ícones mundiais do design de móveis, como a Knoll, que produz a famosa cadeira Barcelona, e as italianas Kartell e Poltrona Frau.

PEÇAS COM ALMA

Não é à toa que a marca chama a atenção dos transeuntes do Salão. Os detalhes do estande de Franco refletem a paixão do artista pelo Brasil, que se reflete na criativa “Fernando de Noronha” collection. “Os visitantes se sentem abraçados por esse conceito que criamos. Emprestamos para as peças um pouco da alma de cada pessoa, de cada lugar. Eu não gosto de vender produtos, mas histórias”, diz ele, que já se prepara para, no ano que vem, lançar uma série de objetos inspirados em Belém do Pará.

Para criar sua mais recente coleção, Pedro mergulhou no universo de Noronha com a ajuda de dois amigos que vivem na ilha. Lá, conheceu moradores, lendas e histórias de importantes personagens locais. Foi assim que surgiu a ideia de dar uma nova cara ao já consagrado sofá Underconstruction, criado em 2010, lançado industrialmente em 2017 e citado pelo New York Times como uma das quatro tendências no design de móveis. Com o novo degradê, ele se conectou com o local através da cor. “É importante fortalecer a imagem do produto para que ele resista ao tempo. Isso é sustentabilidade”, diz ele.

Foi pensando em sustentabilidade também que o designer lançou o “Desconstruction Arauco”. Feita de lâminas naturais e couro, a peça é interativa e se modifica através de aberturas. Para essa criação, o brasileiro se inspirou no conceito do filósofo francês Jacques Derrida, que “desconstrói para construir”. Apesar do item ser chamado de “aparador”, o artista não gosta de limitá-lo a essa função. Citando Bauhaus, movimento alemão que completa 100 anos e que trouxe o racionalismo e a produção em larga escala, Franco prefere ir além. “Eu acredito que os objetos devem ter significado e emocionar. É com essa lógica que guardamos uma cadeira que era da nossa avó, por exemplo”, diz ele.

Essa é sua 13ª participação no Salão de Milão. No histórico do designer, sempre estiveram presentes parcerias e cocriações com nomes de peso como os irmãos Campana, Alessandro Mendini e Pininfarina. Esse ano, no entanto, ele criou coragem para lançar sua primeira coleção 100% solo. A medir pela repercussão, a receita deu certo e deve levar com cada vez mais força pedacinhos do Brasil mundo afora.