Um dos temas mais instigantes dos últimos três ou quatro séculos, e talvez dos mais importantes e influentes para o rumo que trilhou a humanidade, é a Revolução Francesa (1789-1799). Mas irei deixá-la um pouco de lado, me esquecerei de girondinos e jacobinos, de Robespierre e Antonieta, e pensarei em comer brioches apenas mais tarde. Por ora, irei me ater somente a este lado, digamos, menos nobre, do Oceano Atlântico. O Brasil, para não variar, encontra-se em sua 894ª (por extenso: octagentésima nonagésima quarta) crise fiscal, desde 22 de abril de 1500. São mais de 6 trilhões de reais de dívida pública, financiados a juros de 13.75% ao ano, que deixam um rastro de destruição social e humanitária: mais de 30 milhões de famintos, cerca de 125 milhões em insegurança alimentar, quase 10 milhões de desempregados e 67 milhões de CPFs inadimplentes.

Enquanto o Brasil padece, Brasília enriquece. Nossa ilha da fantasia conta com a maior renda per capita do País, à frente, inclusive, de São Paulo (R$ 2.384 contra R$ 1.787). Ainda mais chocante é saber que no Lago Sul, região mais nobre da capital, esse valor chega a R$ 7.655, segundo a CODEPLAN (Companhia de Planejamento do DF), que a equipara a países de primeiro mundo, como Portugal, enquanto a região mais pobre, a Estrutural, equivale ao Zimbábue, na África. Semana passada, nossos eminentes e intocáveis supremos togados concederam a si mesmos um singelo aumento de 18% em seus modestos salários de R$ 40 mil. Sabem como é, né? Não tá fácil pra ninguém! Daí, solidários na dor, os generosos parlamentares aprovaram a medida, ao mesmo tempo em que incluíram na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2023 o novo salário mínimo, com aumento de 6%, que passará de R$ 1.212 para R$ 1.294, ou magníficos R$ 82 a mais.

O Brasil, para não variar, encontra-se em uma crise fiscal. São mais de seis trilhões de reais de dívida pública, financiados a juros

Neste exato momento, já caminhando para o final deste texto, não me lembro mais por que o iniciei citando a Revolução Francesa. E já aviso os ministros do STF: não desejo a cabeça de ninguém, não, hein? Pelo amor de Deus! Na verdade, acho apenas que estou com fome e pensei em brioches. Tenho sorte e posso comê-los. Se Maria Antonieta aqui estivesse, diria a nossos famintos para comerem pé de galinha e restos de ossos. Obedientes, é o que estão fazendo. Em 14 de julho passado, os franceses celebraram 233 anos da queda de Brasília, ops, Bastilha. Em pleno ano da graça de 2022, liberté, égalité, fraternité, no Brasil, só mesmo no Lago Sul, Distrito Federal. Vive la France!