Três jovens brasileiros foram presos ao desembarcar no aeroporto de Bangkok, capital da Tailândia, no último dia 14, com 15,5 quilos de cocaína nas bagagens. A quantidade da droga, avaliada em cerca de R$ 7,5 milhões, pode resultar em condenação à prisão perpétua ou pena de morte, segundo as leis do país. A família da presa Mary Hellen Coelho da Silva, de 21 anos, moradora de Pouso Alegre (MG), decidiu romper o silêncio e está pedindo ajuda às autoridades brasileiras. O Itamaraty informou que acompanha o caso.

Mary Hellen e um amigo de 27 anos chegaram à capital tailandesa em voo procedente de Curitiba (PR). Um jovem de 24 anos desembarcou horas depois, em outro voo vindo da capital paranaense. Funcionários do raio-X do aeroporto desconfiaram do conteúdo das malas e as levaram para revista. A bagagem de Mary Hellen e de seu amigo tinham 9 quilos em um compartimento oculto. Já o outro rapaz levava 6,5 quilos em duas malas. Os três foram detidos e, depois, levados para um presídio de Bangkok.

A família de Mary Hellen soube da prisão porque a jovem enviou um áudio por um aplicativo de mensagens pedindo ajuda. Chorando, ela citou o contato de um advogado a quem deveriam pedir para “fazer alguma coisa” e “mandar a gente responder no Brasil”. Conforme a irmã, Mariana Coelho, de 24 anos, os familiares não sabiam do envolvimento da jovem com o tráfico de drogas. Segundo ela, depois que conseguiu emprego em uma churrascaria distante de casa, Mary Hellen passou a morar sozinha. “Estamos todos desesperados, sem saber o que fazer e sem ter informações. A gente já apelou para o governo, para o Itamaraty. Está na mão deles. Um grupo de advogados também está nos ajudando”, disse.

Emocionada, Mariana pediu que o marido, o pedreiro Anderson Edson de Oliveira Souza, de 28 anos, continuasse a entrevista com a reportagem. Ele contou que Mary Hellen nasceu no Rio de Janeiro, e veio com a mãe e quatro irmãos para Pouso Alegre, cidade de 155 mil habitantes, no sudeste de Minas. Com dificuldade no relacionamento com a mãe, aos 13 anos, a menina passou a viver com a irmã. “Ela sempre trabalhou, ou como chapeira em hamburgueria, ou de atendente de balcão, com o que aparecia. Mas isso que aconteceu pegou todo mundo de surpresa.”

Segundo Anderson, a mãe está em estado terminal devido a um câncer no útero, o que talvez tivesse influenciado a cunhada. “Não estamos classificando ela como santa, a gente sabe que tráfico de drogas não é legal em lugar nenhum do mundo, mas ela é brasileira. Ela tem de responder aqui. O que a gente espera é que ela seja extraditada, da mesma forma que o Brasil extradita quanto um asiático, um estrangeiro comete um crime aqui. Não só ela, mas também os dois que foram presos lá são brasileiros. Quando me apresentei ao Exército, prestei juramento à bandeira do Brasil. Espero que o Brasil não abandone a gente agora”, disse.

O cunhado conta que, apesar de jovem, Mary Hellen teve uma vida sofrida, distante da mãe e de parte dos irmãos. “Com 21 anos, ela já viveu coisas que uma mulher de 40 ou 50 anos não viveu. Ela morava aqui e a gente cuidava dela. A Mariana estava pegando no pé dela para que voltasse a estudar. A Mary Hellen estava fazendo autoescola para tirar a habilitação. As duas iam abrir um negócio juntas, para vender bolo gourmet. Agora, tudo o que a gente quer é que ela seja tratada como brasileira e pague pelo que fez aqui.”

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Parentes de Jordi Vilsinski Beffa, de 24 anos, morador de Apucarana (PR) confirmaram que ele é um dos brasileiros presos em Bangkok, capital da Tailândia, acusados de tráfico internacional de drogas. Segundo uma prima do jovem, ele conversou pelo celular com os pais na madrugada de quinta-feira, 17, enquanto aguardava para ser apresentado à autoridade judicial de Bangkok. A família achava que o jovem estava com amigos em Balneário Camboriú (SC). O casal, que leva vida simples – o pai de Jordi trabalha como porteiro – tem relutado em pedir ajuda. Até o fim da tarde, eles não tinham dado retorno à reportagem.

OAB AJUDA

Um grupo de advogados ligados à 24ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Pouso Alegre decidiu se mobilizar voluntariamente para ajudar a família. “Enviamos um e-mail para o Itamaraty relatando o que ouvimos da família e as gestões diplomáticas estão sendo feitas. Como não podemos advogar diretamente, estamos tentando conseguir um advogado correspondente na Tailândia que possa atuar no caso de forma voluntária também, pois a família não tem condições de pagar”, disse a advogada Pablinie Costa, uma das integrantes do grupo.

Ela considera a situação muito grave, pois a Tailândia é um dos países que resistem a abolir a pena de morte e suas leis são rigorosas em relação ao tráfico de drogas. “Vimos que, em casos anteriores naquela região, houve condenações e execuções. Juridicamente falando, a gente não vê muita chance. Os caminhos que podem trazer algum resultado são os diplomáticos e políticos. O problema é que não existem tratados sobre essa questão entre o Brasil e a Tailândia”, disse. Os advogados também tentam obter mais informações sobre as condições em que a jovem se encontra, pois a família está sem notícias dela.

Já sobre os casos dos dois outros jovens, as famílias optaram por se manter em silêncio. Um deles, de 24 anos, seria morador de Apucarana, no interior do Paraná. Os casos não chegaram de forma oficial ao conhecimento das autoridades policiais. A Polícia Federal informou que não foi informada oficialmente das prisões.

CASOS ANTERIORES

Nos últimos dez anos, pelo menos dois brasileiros acusados de tráfico de entorpecentes foram executados em países do sudeste asiático que mantêm a pena de morte, como a Tailândia. Em 2015, o instrutor de voo Marco Archer Cardoso Moreira, de 53 anos, foi preso quando, segundo a acusação, tentava entrar na Indonésia com 13 quilos de cocaína escondidos nos tubos de uma asa delta. Um ano antes, o surfista Rodrigo Masfeldt Gularte, de 42 anos, tinha sido preso com 6 quilos da droga escondidos em uma prancha de surfe, também na Indonésia. Ambos foram executados por um pelotão de fuzilamento, conforme as leis do país.

ITAMARATY

Sobre o caso de Mary Hellen e dos outros dois brasileiros, o Itamaraty informou em nota que, por meio da Embaixada em Bangkok, “acompanha a situação e presta toda a assistência cabível aos nacionais, em conformidade com os tratados internacionais vigentes e com a legislação local”. Conforme o Itamaraty, em observância ao direito à privacidade e ao disposto na Lei de Acesso à informação e no decreto 7.724/2012, informações detalhadas poderão ser repassadas somente mediante autorização dos envolvidos. “Assim, o MRE (Ministério das Relações Exteriores) não pode fornecer dados específicos sobre os casos individuais de assistência a cidadãos brasileiros”, disse, em nota.


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