PAPÉIS DA CHINA A XP criou um fundo, o Xina11, que trabalha com ações das empresas chinesas, como siderúrgicas;
outros, ETFs, miram em segmentos específicos como a mineração (Crédito:AFP)

O bom momento das bolsas de valores nos Estados Unidos e na Europa tem levado um número crescente de brasileiros a investir no exterior. No 1º trimestre deste ano, as aplicações de brasileiros em fundos de investimentos no exterior cresceram 40,2%, saltando para R$ 735 bilhões, segundo dados da Anbima, entidade do mercado de capitais que acompanha o setor. É um ramo que está eufórico. O grosso do investimento é feito por bancos, empresas e grandes investidores. Porém, de 2020 para cá está ocorrendo uma popularização, capitaneada por empresas como a XP Investimentos e a EQI Investimentos — duas concorrentes. Elas possuem softwares que permitem aos clientes investirem em fundos no exterior a partir de somas como R$ 10, embora a maioria dos fundos exija que o cliente parta de R$ 100 ou R$ 500. Com a facilidade, os pequenos investidores precisam tomar cuidados antes de embarcar nessa onda, dizem especialistas.

ANDRE FOSSATI

Os fundos preferidos pelos investidores são os multimercados e os de ações. Os multimercados no exterior renderam 2,7% apenas no 1º trimestre, enquanto os de ações propiciaram ganhos de 2,6% no período, segundo a Anbima. Os fundos multimercados são para clientes mais conservadores, minimizando os riscos de perdas. Eles misturam títulos de renda fixa, investimentos em câmbio e ações das empresas. Os fundos de ações trabalham apenas com papéis das empresas. “Há 18 meses que a procura pelos fundos no exterior é voraz. O brasileiro percebeu que dá para ganhar dinheiro fora do Brasil”, diz Fabiano Cintra, coordenador de Fundos da XP Investimentos. Segundo ele, quando a corretora começou a dar acesso aos fundos para os clientes, no início de 2020, 60 mil pessoas aderiram. Esse número cresceu para 700 mil no começo de 2021. No início do ano passado, os clientes da XP tinham investido R$ 1,5 bilhão nesses fundos. No começo de 2021, essa soma saltou para R$ 10 bilhões.

Hoje, a empresa dá acesso a pelo menos 120 fundos no exterior, e se orgulha de ser a primeira que “trouxe um ETF de ações chinesas para o investidor brasileiro”. É o fundo XINA 11, que replica a performance diária das grandes e médias empresas listadas em bolsa na China. Fundos que replicam os valores das bolsas, ou de mercados como o ouro e a prata, são chamados de ETFs — sigla em inglês para Exchange Traded Fund. A taxa de administração cobrada para se investir em um ETF costuma ser de aproximadamente 0,3% ao ano, segundo a XP. Outro fundo de investimento é o BDR, no qual a pessoa investe diretamente na ação de uma empresa. O BDR tem um risco maior que o ETF. “É preciso alertar que o BDR tem variação cambial. Por exemplo: se uma pessoa investe em uma ação da Apple na Bolsa de Nova York e ela não oscila, mas o dólar sobe aqui no Brasil, a pessoa ganha dinheiro. Mas o mesmo vale se o dólar cai no Brasil: a pessoa perde dinheiro”, pondera André Arantes, assessor da EQI Investimentos.

Riscos dos mercados

O executivo de uma grande empresa de investimentos, com muitos anos de mercado, resume o porquê da procura dos brasileiros pelos investimentos no exterior: “É a incerteza política que cresceu no Brasil. As pessoas estão com medo de perder patrimônio e a taxa de juros está baixa — a Selic está em 2,75% ao ano”, comenta. Segundo ele, não vale a pena mandar dinheiro para o exterior com o dólar a R$ 5,70. “Os juros estão em trajetória de alta no Brasil, o que tende a remunerar melhor o dinheiro por aqui. O Banco Central, por outro lado, vai atuar de maneira forte para controlar a inflação”, alerta. Isto significa que os juros subirão no Brasil — a projeção do mercado é que a Selic fechará 2021 a 5,25% — e o capital tende a dar melhor retorno no País.

“O cenário está muito favorável para investir no exterior e os brasileiros já perceberam” Fabiano Cintra, coordenador de fundos da XP (Crédito:VIVIAN KOBLNSKY)

Outro ponto a se observar é a volatilidade do dólar. A moeda americana está na faixa de R$ 5,70, mas o mercado projeta que fechará o ano a R$ 5,37, segundo a pesquisa Focus, do Banco Central, de 9 de abril. “A moeda brasileira está muito desvalorizada, ela vai voltar à média”, opina o executivo. A nova modalidade, como todo investimento, exige cautela. Todos os fatores precisam ser avaliados. A Bolsa da Nova York e os mercados europeus romperam recordes em 2021, e os Bancos Centrais ao redor do mundo injetaram trilhões de dólares e euros para reativar a economia durante a pandemia. O mundo ainda vive o choque da crise sanitária.

O imponderável, portanto, sempre deve ser levado em conta — e os pequenos investidores, mais vulneráveis, muitas vezes são os mais penalizados.