Geovani Martins

Com apenas 27 anos, Geovani Martins já é considerado um fenômeno literário. Seu grande legado: escrever em contos, quase como uma denúncia, os contrastes que fazem parte do dia a dia de quem transita entre o morro e o asfalto no Rio de Janeiro. Seu livro “O Sol Na Cabeça” reúne 13 contos, já foi publicado em nove países e elogiado por nomes que vão de Chico Buarque a Antonio Prata. Os direitos de adaptação para o cinema também já foram comprados. Com um realismo impressionante, suas histórias são contadas a partir da perspectiva de personagens que vivem em meio às drogas, pobreza, polícia, armas ou UPPs.
“Tudo ali é ficção e realidade. São histórias sobre experiências reais e é isso que traz a verdade para o texto”, diz ele. O sal de suas histórias é a linguagem, meticulosamente escolhida e versátil, ora com realismo sujo, gírias e primeira pessoa, ora com o português formal. Geovani nasceu em Bangu, na zona oeste do Rio e, aos 14 anos, começou a escrever letras para melodias de amigos. A entrada na arte pela porta da música foi fundamental para os contos que escreve. “Eu busco encontrar o ritmo e o tom antes de escrever um texto. Música e literatura estão conectadas o tempo todo”, diz ele. Sempre trabalhando em bicos, Geovani saiu de casa aos 18 anos e se mudou mais de 17 vezes. Aos 24, teve de voltar para a casa da mãe para se dedicar exclusivamente à escrita.

Foi ali que fez uma promessa determinante para sua carreira. “Prometi a ela que escreveria um livro que mudaria minha vida”. A promessa custou caro. Geovani trabalhava de seis a sete horas por dia e chegou a ficar com tendinite, mas o que mais lhe desesperava era o pesadelo do fracasso. “Escrever pra mim se tornou uma necessidade financeira, emocional e estética”, diz ele, que não abre mão da máquina de escrever Remington 22 que ganhou da mãe e do padrasto.

Seu livro foi lançado pela Companhia das Letras em março. Desde então, ele tem viajado pelo Brasil a convite de Festivais. “Agora pretendo parar os eventos, estou com saudades de escrever”. Com seu jeito introvertido e olhar contemplativo, ficou impressionado ao ver os visitantes chegarem, tirarem “fotos todas iguais” e depois irem embora, sem nem curtirem a paisagem do mirante em que foi fotografado pela reportagem. Ainda bem que ele está de olho e – para a sorte do leitor – não vê a hora de passar tudo o que observa para o papel.