“Sou conservadora e sou uma brasileira que estou há 22 anos em Portugal. Conheço os problemas de Portugal. Sei que o Chega, como conservador, e que tem causas que eu defendo, é o melhor partido para Portugal”, diz a empresária brasileira Sandra Bitencourt.

O Chega é um partido de ultradireita e, às vésperas da eleição, está em ascensão: aparece em terceiro nas pesquisas. O principal discurso é de controlar a imigração. Ao mesmo tempo, busca o voto dos brasileiros, maior comunidade de imigrantes. Uma contradição?

“Na verdade, ele não é contra a imigração. Ele é contra ter uma imigração sem ter uma organização”, conta Sandra.

Hermano Maia, um militante do Chega, afirma: “Se é para você receber em casa, que você receba bem. Não adianta encher o país de estrangeiros e não ter moradia, não ter saúde, não ter educação”.

O partido compartilha várias pautas com o bolsonarismo, como o antagonismo com a esquerda tradicional. “Muito importante aqueles brasileiros que nos últimos anos têm fugido precisamente do governo corrupto do Lula da Silva”, diz André Ventura, líder do Chega.

E outras agendas conservadoras, como a de costumes. “A sexualização precoce das crianças, a questão de querer incutir na mente da criança que ela pode ser um abacaxi, uma cenoura, um detergente”, argumenta Cibelli Pinheiro, militante do Chega.

O Chega até usou Jair Bolsonaro como cabo eleitoral. “Muito importante para todos nós que André Ventura, do Chega, consiga essa cadeira de primeiro-ministro”, afirmou Jair Bolsonaro, ex-presidente brasileiro, em um vídeo nas redes sociais em janeiro de 2024.

A aparente contradição é que os apoiadores do Chega são os que tendem, segundo especialistas, a expressar mais xenofobia. Os brasileiros são a maior comunidade de estrangeiros em Portugal, representando até 8% da população. E se encaixariam numa estratégia maior do Chega: ter mais força política para combater uma suposta imigração sem controle vinda de países muçulmanos.

“E essa é a proximidade do Chega com os brasileiros. Que é o combate à islamização, o islã como o grande inimigo dos evangélicos e também da extrema direta na Europa de modo geral. O islã é o novo inimigo comum desses partidos. Mesmo que Portugal tenha uma comunidade islâmica muito pequena. É a ideia do inimigo que nunca vimos. Agora, a questão de [uma imigração] ser excessiva, ilimitada ou de portas abertas… A questão não será tanto. A questão será que há um mercado laboral que está determinando o número mais ou menos das entradas em Portugal”, explica João Miguel de Carvalho, cientista político do Instituto Universitário de Lisboa.

No fundo, o Chega conquista brasileiros ao estimular uma espécie de diferenciação entre os imigrantes em Portugal: os bons e os supostamente maus. E muita gente não está gostando: “Fascismo nunca mais!”, grita uma mulher da janela.