Um brasileiro que alega ser descendente de Cristóvão Colombo está sendo processado nos Estados Unidos e pode pegar vários anos de prisão após tentar se aproveitar de uma “brecha” na lei americana e viver em um hotel de Nova York durante cinco anos tendo pago a estadia equivalente a uma noite. As informações foram divulgadas pelo New York Times.

Mickey Barreto, de 49 anos, é natural de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, e se mudou para os Estados Unidos durante os anos 90 para cursar uma faculdade. O brasileiro é descrito como um adorador de teorias da conspiração e vivia na Califórnia antes de ir para Nova York.

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Em junho de 2018, Mickey Barreto se hospedou no Hotel New Yorker, que fica no centro da cidade. A estrutura conta com 41 andares e foi inaugurada em 1930, à época, o estabelecimento foi considerado o segundo maior do mundo.

Apesar disso, o local foi adquirido pelo Reverendo Sun Myung Moon, líder religioso coreano da Igreja da Unificação, em 1976, e hoje, grande parte do prédio é ocupado por seus seguidores.

Mickey Barreto entrou no quarto 2565 para permanecer apenas uma noite, mas o cômodo de menos de 220 metros quadrados que comporta duas camas, um closet e uma televisão com streaming gratuito acabou por se tornar sua residência durante cinco anos.

O brasileirou pagou 200,57 dólares (equivalente a R$ 998,90) e entrou no estabelecimento com seu companheiro, Matthew Hannan. Ao longo da hospedagem, os dois conversaram sobre uma seção da Lei de Estabilização de Aluguéis, de 1969.

Com uma rápida pesquisa, a dupla descobriu que um trecho da legislação garantia a possibilidade de alugar um quarto de hotel desde que o cômodo estivesse em uma estrutura inaugurada antes do ano de aprovação da lei e que a hospedagem por semana custasse 88 dólares em maio de 1968.

Conforme a regra, um hóspede poderia se tornar um residente do hotel, com acesso aos mesmos serviços de outros clientes, apenas solicitando um aluguel com desconto. Na manhã seguinte, Mickey Barreto requisitou moradia no estabelecimento por seis meses em uma carta entregue ao gerente.

Entretanto, o apelo não foi bem-sucedido e Mickey e Matthew Hannan foram despejados de forma forçada por não pagarem a estadia. Com isso, o brasileiro decidiu levar o caso à Justiça.

Em julho, sem que nenhum representante do hotel estivesse presente, um juiz nova-iorquino concedeu a possibilidade de residência no hotel ao brasileiro, após a acusação apresentar códigos locais, leis estaduais e um caso similar que ocorreu anteriormente.

Poucos dias depois, Mickey Barreto retornou ao quarto 2565 como morador do hotel New Yorker.

Dono do hotel New Yorker

O casal Mickey e Matthew continuaram por alguns dias lendo a decisão favorável do juiz e encontraram uma brecha no documento. O magistrado não definiu uma data limite de estadia e nem sugeriu que um aluguel deveria ser pago. Ainda assim, a escritura assegurava que o brasileiro possuía a posse do quarto de hotel.

Com a determinação judicial, Mickey Barreto havia se tornado o dono do quarto 2565, e prontamente o brasileiro decidiu oficializar tal título no Departamento de Finanças em Manhattan. No local, ele foi informado de que não seria possível registrar o cômodo já que a propriedade estava registrada apenas como hotel New Yorker.

Portanto, o brasileiro iniciou uma tentativa de registrar toda a propriedade em seu nome. Entretanto, processos burocráticos e tecnicalidades do Departamento de Finanças dificultaram que o título fosse adquirido. A posse só se oficializou após Mickey recorrer ao xerife local.

Ao mesmo tempo, o hotel entrou com uma ação judicial contra o brasileiro para que ele fosse despejado, mas a acusação não conseguiu provar que uma estadia semanal custasse mais de 88 dólares em maio de 1968.

Após se tornar o suposto dono da propriedade, Mickey Barreto entrou em contato com o advogado do hotel, exigindo o valor de 15 milhões de dólares (R$ 74,4 milhões) com base nos lucros do estabelecimento. O brasileiro ainda determinou que fosse realizada uma reforma no 38º andar em uma das entradas.

Mickey ainda tentou contato com a Wyndham Hotels and Resorts, que gerencia o New Yorker, e o credor do estabelecimento, M & T Bank. Além disso, o brasileiro exigiu o aluguel do Tick Tock Diner, um restaurante que está conectado ao lobby do hotel. Nenhuma das determinações foi aceita.

Com isso, o New Yorker entrou com outra ação judicial para exigir que Mickey Barreto deixasse de se considerar o dono do hotel. A determinação da Justiça foi favorável ao estabelecimento, e o brasileiro perdeu os supostos direitos que havia adquirido sobre a propriedade.

Residente do New Yorker

Apesar de não ser o dono do hotel, Mickey ainda era um residente e estava hospedado com Matthew Hannan. Por estar desempregado, o brasileiro passava muito tempo no quarto 2565 e utilizava tal disponibilidade para pesquisar sobre a genealogia de sua família.

Mickey alega que é um descendente de Cristóvão Colombo, descobridor das Américas. O brasileiro ainda pesquisou sobre a Igreja da Unificação, que é dona do New Yorker, descobrindo que a instituição possuía supostas conexões com a Coreia do Norte, conclusão embasada no fato de que o Reverendo Moon nasceu no país e a organização já teve um hotel no território governado por Kim Jong-Un.

Por acreditar que o dinheiro do lucro do New Yorker seria enviado ao governo norte-coreano, Mickey Barreto alegou que, por patriotismo aos Estados Unidos, não poderia pagar tal valor e deveria permanecer no estabelecimento para investigá-lo. “Me desculpe se eu impedi sua tentativa de financiar armamentos de destruição em massa”, declarou o brasileiro.

Despejo

Após anos vivendo no New Yorker sem pagar nada, Mickey foi despejado em julho do ano passado, após uma decisão da Justiça ser favorável ao hotel, já que o brasileiro não pagou nenhum aluguel.

Posteriormente, Mickey Barreto foi preso pelas autoridades e levado a um tribunal de Manhattan com 24 acusações. Matthew Hannan não sofreu qualquer consequência, já que o brasileiro relatou que ele não teve qualquer participação em toda a empreitada.

Agora, Mickey espera uma decisão da Suprema Corte Estadual de Nova York depois de ser libertado sob pagamento de fiança.