09/02/2020 - 8:00
Mulher mais rápida do Brasil na atualidade, com as melhores marcas nos 100m e 200m, a atleta Vitória Rosa sonha com uma final olímpica nos Jogos de Tóquio. O feito seria inédito na história do País. “A expectativa é pegar uma final olímpica. Não sei se vai ser nos 100m ou 200m, mas esse é o meu sonho”, afirma a corredora que já obteve o índice para 200m, sua prova preferida, e está classificada para os 100m pela tabela de pontos da World Athletics, a federação internacional da modalidade.
Para realizar o objetivo, Vitória Rosa precisa melhorar suas marcas. Nos 200m, ela anotou 22s62, o melhor tempo de sua vida e conquistou a prata nos Jogos Pan-Americanos de Lima. A título de comparação, a última atleta classificada para a final olímpica nos Jogos do Rio, em 2016, foi a inglesa Dina Asher Smith. Ela cravou 22s49. Portanto, Vitória tem de melhorar 0s13.
Na prova dos 100m, Vitória tem uma diferença maior para superar. Ela marcou 11s65 enquanto o tempo da marfinense Marie-Josée Ta Lou, última finalista nos Jogos Rio 2016, foi de 10s94. A diferença, portanto, é de 0s71. O melhor tempo da história de uma brasileira na prova mais rápida do atletismo é de Rosângela Santos. Em 2017, ela foi a sétima colocada do Mundial de Londres ao anotar 10s91, recorde sul-americano.
Para Cleberson Yamada, especialista em atletismo pela Universidade de Leipzig, na Alemanha, Vitoria tem boas chances. “Certamente a Vitória e a mais rápida do País hoje. Acredito que ela tenha plenas condições de ir a uma semifinal nos 200m. Caso corra abaixo de 22s4 na semifinal, ela poderá ir até para a final. Com a marca de 22s62 no Pan, isso me parece dentro do alvo”, afirma Yamada, que também é comentarista do canal BandSports. “Nos 100m, a tarefa é mais difícil.”
A atleta do Pinheiros ainda não definiu qual provar vai correr, mas não esconde a predileção pelos 200m. “Meu objetivo é correr os 200m, minha melhor prova, embora corra também os 100m. É tudo muito rápido nos 100m. A gente não pode errar. Nos 200m, a gente consegue consertar alguns pequenos erros. Temos mais tempo para fazer ajustes dentro da prova”, compara a atleta de 24 anos.
Vitória fala sobre marcas e objetivos de um jeito leve e descontraído. A pedido do Estado, ela faz seu próprio retrato. “Quem é a Vitória Rosa? É uma menina alegre, divertida. Estou sempre na minha, sempre sorridente. O mundo está caindo e estou sorrindo”, brinca. Diante da pergunta “O que significa ser a mulher mais rápida do Brasil?”, ela repete o sorriso. “Eu encaro isso sem pressão. O reconhecimento é prazeroso. As pessoas pedem para tirar fotos e conversar. As pessoas enviam mensagens e dizem que se inspiram em mim. Ao mesmo tempo, eu me inspiro nas pessoas. Eu transmito a Vitória que eu sou.”
INÍCIO – A menina começou no atletismo aos 14 anos, em 2010, quando foi descoberta por uma professora de Educação Física no Rio de Janeiro. Aos 17, já disputava o seu primeiro Mundial Juvenil, na Ucrânia. O primeiro Pan foi em 2015, em Toronto, quando não subiu ao pódio. Na Rio-2016, não conseguiu chegar às semifinais dos 200m. No Mundial de 2017, em Londres, foi às semifinais e participou da final do revezamento 4x100m.
O ano de 2019 foi o melhor de sua carreira. “Foi a temporada que eu mais me surpreendi. Pela temporada, pelos resultados e pelos sonhos que tinha que consegui realizar. Eu queria entrar em uma etapa da Diamond League na prova individual. Eu consegui fazer cinco etapas.”
Embora tenha de melhorar suas marcas nas provas individuais de velocidade para chegar à sonhada final olímpica, Vitória Rosa também tem a chance na prova do revezamento 4x100m. As brasileiras conquistaram o ouro no Pan de Lima com o melhor tempo da temporada: 43s04. O time teve a própria Vitória Rosa, Rosangela Santos, Lorraine Martins e Andressa Moreira Fidelis. “No revezamento, acho que a gente também pode chegar à final e correr atrás da medalha. Um passo pequeno e de cada vez.”
O melhor resultado da história do País no revezamento foi o bronze nos Jogos de Pequim-2008, herdados após doping da equipe russa. A Bélgica recebeu o ouro, a prata ficou com a Nigéria e o Brasil, com o terceiro lugar.
RECORDE – A jamaicana Shelly-Ann Fraser Pryce ostenta a posição de mulher mais rápida do mundo. Nos 100m, a velocista cravou 10s71 no Mundial de Atletismo, em setembro do ano passado, no Catar. A marca representou um triunfo pessoal, pois foi obtida dois anos depois do nascimento do seu filho, Zyon. Shelly-Ann foi duas vezes campeã olímpica (2008 e 2012). Em 2012, nos Jogos de Londres, ela não competiu devido ao nascimento de seu filho. Fraser-Pryce contou em várias entrevistas como se sentiu arrasada quando descobriu que estava grávida, porque temeu pelo fim da sua carreira. A título de comparação, a marca atual da jamaicana é 0s45 mais rápida que o melhor tempo de Vitória Rosa.
A segunda melhor marca da temporada é da também jamaicana Elaine Thompson, que conquistou ouro nos Jogos do Rio, em 2016. O recorde mundial é à norte-americana Florence Griffith-Joyner (10s49).
Nos 200 metros, novos nomes estão surpreendendo. Shaunae Miller-Uibo, atleta do Bahrein e campeã mundial nos 400m, conquistou a melhor marca de 2019 (21s74). A britânica Dina Asher-Smith, prata no Mundial do Catar, tem a segunda melhor marca da última temporada (21s88).
A prova também mostra a distância da realidade brasileira. O melhor tempo de Vitória Rosa na temporada foi de 22s62. O recorde pertence também a Florence Griffith-Joyner e foi conquistada nos Jogos de Seul (1988) quando ela marcou 21s34. Resumidamente, corredoras jamaicanas e norte-americanas, com algumas exceções, dominam as provas femininas de velocidade.