MILÃO, 18 MAI (ANSA) – A brasileira Iris Berardi, uma das jovens que participavam das noitadas promovidas por Silvio Berlusconi, frequentava a casa do ex-premiê da Itália quando era menor de idade, segundo a procuradora-adjunta de Milão, Tiziana Siciliano.   

Em mais uma audiência de um dos processos contra Berlusconi por corrupção no sistema judiciário, Siciliano disse nesta quarta-feira (18) que sentiu uma “pena incrível” da brasileira.   

“É um fato comprovado que Berardi frequentava a casa de Silvio Berlusconi como menor de idade. Era uma menina irreprimível, como só os jovens podem ser, comparável a Ruby”, acrescentou a procuradora, referindo-se à modelo ítalo-marroquina Karima el Mahroug, mais conhecida como “Ruby”, pivô do escândalo sexual que abalou a imagem do ex-premiê.   

De acordo com Siciliano, Berlusconi não confiava em Berardi nem em Ruby e adotou com elas a estratégia do “afastamento”. “E Berardi obedeceu”, declarou.   

O ex-primeiro-ministro é réu no Tribunal de Milão em um processo por corrupção judiciária, acusado de subornar garotas de programa que participavam das noitadas em suas mansões – festas apelidadas de “bunga-bunga” – para que elas mentissem à Justiça.   

O processo é conhecido como “Ruby ter” e também conta com desmembramentos em outras províncias da Itália, como Roma, Turim, Pescara, Treviso, Monza e Siena – nesta última, o ex-premiê foi absolvido em primeira instância em outubro do ano passado.   

“Escravas sexuais” – Em sua exposição, a procuradora-adjunta de Milão afirmou que o então premiê costumava “animar sistematicamente as noites em casa com grupos de odaliscas, escravas sexuais a pagamento”, como se fosse um “sultão”.   

Segundo o Ministério Público, “a nossa época olha com desgosto para essa violência terrível perpetrada contra mulheres, contra pessoas com pouquíssimas possibilidades de se defender”.   

“Consumava-se algo de medieval e moralmente discutível”, acrescentou Siciliano.   

Além disso, a procuradora destacou que o Ministério Público encontrou “provas evidentes de corrupção” de testemunhas por parte de Berlusconi, inclusive dados, fotos, capturas de tela e mensagens trocadas entre as garotas.   

Em resposta, um dos advogados do ex-premiê, Federico Cecconi, disse que essa “atribuição de epítetos arrisca escorregar para o mau gosto”. “Não gosto dessa forma de polêmica que faz baixar o nível. Embora eu queira manter um nível mais nobre, não posso impedir que se use esses termos, mas não os compartilho”, afirmou.   

A defesa alega que Berlusconi fazia repasses às garotas apenas para ajudá-las, e não para manipulá-las. “Quando chegar nossa vez, evidenciaremos que cada doação de dinheiro teve uma causa lícita”, acrescentou Cecconi.   

A própria Iris Berardi foi flagrada em um grampo dizendo que sentia falta da mesada do “papai”. No entanto, em julho de 2016, com votação secreta, o Senado da Itália proibiu o Ministério Público de usar a interceptação como prova no “Ruby ter”.   

(ANSA).