A mineira Carolina Arruda, de 27 anos, que estuda medicina veterinária e vive em Bambuí (MG), abriu uma vaquinha para poder realizar eutanásia devido a neuralgia do trigêmeo – condição que causa nela há 11 anos a “pior dor que existe” e a impede de realizar tarefas diárias simples. Até esta segunda-feira, 8, ela arrecadou R$ 121 mil para arcar com os custos do procedimento que será realizado Suíça. A prática é proibida no Brasil.

Em uma entrevista à Folha de S. Paulo, a estudante pontuou que buscou contato com o neurologista Wellerson Sabat e uma equipe na Argentina, que possuem uma nova técnica para tratar a enfermidade. “Eu vou tentar dependendo da margem de sucesso. Tudo vai depender do que eles me apresentarem, porque se for uma terapia que não tem muitas chances de sucesso, eu não vou me submeter a mais tipos de cirurgia”, informou.

Além disso, Carolina também tem esperança na Clínica da Dor da Santa Casa de Alfenas (MG). A paciente já conhecia a instituição mas não conseguiu acesso devido ao alto valor. A consulta será realizada nesta segunda-feira, 8, de forma virtual e gratuita. “Se der certo e aliviar a dor, talvez eu reconsidere a eutanásia. Tudo é válido para minimizar a dor. Mesmo que eu tenha decidido pela eutanásia, ainda terei que passar por um processo burocrático e demorado”, afirmou.

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Nas redes sociais, a mulher compartilha sua rotina com a enfermidade. Após a viralização do caso, Carolina pediu mais respeito à sua decisão e a seus familiares. “Eu agradeço a preocupação de todo mundo e a esperança que vocês têm, mas eu quero esclarecer que já passei por inúmeros tratamentos […] Para aqueles que dizem que minha doença é falta de Deus, peço que respeitem minha jornada. Não é falta de fé”, declarou a mineira.

Em outro vídeo, Carolina relatou que seu caso é muito raro e não deveria servir como referência a outros pacientes que sofrem com neuralgia do trigêmeo. “A maioria das pessoas respondem bem aos tratamentos disponíveis […] A eutanásia não é a única saída”, explicou.

O que é a Neuralgia do Trigêmeo

De acordo com Vinícius Boaratti Ciarlariello, neurologista do Departamento de Pacientes Graves do Hospital Israelita Albert Einstein, a doença é caracterizada por dores excruciantes na região da face que seguem o trajeto de um nervo conhecido como trigêmeo, que vai da orelha ao meio do rosto e está presente nos dois lados da cabeça. “Ela (dor) definitivamente é uma das piores que existem e têm caráter de choque ou queimação, acontecendo diversas vezes ao longo do dia”, explica o médico.

No caso de Carolina, por ser bilateral, a enfermidade afeta os dois lados da face.

Segundo o especialista, as crises podem ser desencadeadas por movimentação da boca ao falar ou comer, presença de alimentos gelados, ato de escovar os dentes e até por um toque na face. “Não há uma causa única para esta condição, podendo ser secundária a uma série de outras doenças”, pontua Boaratti.

Segundo o médico, pode haver um conflito neurovascular em que um vaso sanguíneo entra em contato direto com o nervo e causam disparos similares a um curto-circuito. As causas também podem incluir lesões no trigêmeo ou em alguma parte do cérebro, doenças inflamatórias de meninges e nervos e doenças autoimunes como a Esclerose Múltipla.

Diagnóstico

“O diagnóstico da doença é clínico e deve ser feito através de consulta médica com neurologista, associado a investigação complementar de exames de imagem do cérebro e, em alguns casos, com coleta de líquido cefalorraquidiano [fluido que ocupa parte do encéfalo]”, explica Boaratti, acrescentando que qualquer neurologista pode realizar o diagnóstico, mas determinados pacientes podem necessitar de um especialista em dor.

Tratamento

De acordo com o neurologista, a doença não é curável na maioria dos casos, mas as dores do paciente podem ser controladas a partir de medicamentos ou cirurgias. Apesar disso, não é incomum pessoas com a condição voltarem a ter tais sensações intensas em algum momento futuro.

“De forma geral, o tratamento se baseia no uso de medicamentos contínuos que controlam o disparo inapropriado do nervo e as vias centrais da dor”, esclarece Boaratti, acrescentando que procedimentos cirúrgicos podem ser realizados para tentar controlar a enfermidade. “É importante salientar que os pacientes submetidos a cirurgias ainda podem continuar com dor, e que não os faria necessariamente deixar de usar medicamentos.

Realidade com a dor

Na sua página da arrecadação, Carolina relatou que, durante crises de dor, já tentou suicídio duas vezes, devido a intensidade da sensação. “Infelizmente, a depressão que eu enfrento é decorrente de anos vivendo com dores crônicas e, por isso, não pode ser curada”. Segundo a mulher, a doença é tão severa que se torna impossível realizar tarefas diárias simples ou manter relacionamentos.
Depois de todas as opções médicas se esgotarem, Carolina optou por realizar a eutanásia. Entretanto, o procedimento só poderia ser realizado na Suíça. “A estimativa é que o total necessário, incluindo os custos de viagem e médicos, ultrapasse os R$ 150 mil”, explicou a mulher.

Até o momento de publicação desta notícia, Carolina havia angariado R$ 121 mil.