O Brasil vive o momento mais delicado dos últimos tempos. Por sua belicosidade constante e total desrespeito às normas jurídicas, a presença de Jair Bolsonaro na Presidência é uma ameaça real e imediata a nossa frágil democracia. Isso revela uma coisa muito triste: somos um País que anda para trás. Voltamos aos anos 1980: inflação descontrolada, dólar nas alturas, miséria generalizada e militares envolvidos com a política. Ou seja: estamos prestes a jogar fora quase quarenta anos de avanços sociais. Tudo isso porque Bolsonaro pensa como um ditador e agirá como tal se não for detido a tempo. Para nossa tragédia, seu plano vai de vento em popa. Comprou o Congresso Nacional ao se aliar ao Centrão, aparelhou as instituições que poderiam se opor a ele, como a Procuradoria-Geral da República e a Polícia Federal, e incorporou ao Executivo milhares de oficiais, tornando a sociedade refém de uma exótica anomalia – o governo militar eleito pelo voto, um “cavalo de Tróia” que mostra sua face verdadeira um pouco mais a cada dia.

Desde 1990, quando entrou para a política, o objetivo de Bolsonaro é destruir as instituições democráticas do País, instâncias pelas quais ele sente ódio. A Constituição de 1988 foi elaborada para organizar uma sociedade regida por leis, como diz seu artigo primeiro: “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos a soberania, a cidadania, a dignidade
da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político”.

Desde 1990, quando entrou para a política, o objetivo de Bolsonaro é destruir as instituições democráticas pelas quais ele tem ódio

Bolsonaro age deliberadamente contra todos os itens acima. Apenas para citar alguns exemplos, provocou a desunião ao criticar governadores e prefeitos que ousaram desafiá-lo durante a pandemia; atacou o Estado Democrático de Direito ao desprezar a dignidade humana e elogiar torturadores sanguinários; vai contra a essência do pluralismo político, tratando adversários como inimigos.

O caso Daniel Silveira é apenas uma desculpa para afrontar o STF. O presidente não está nem aí para uma figura irrelevante como Silveira – ele usa o deputado apenas para testar até onde pode ir. A expressão “esticar a corda” já não vale: ela já arrebentou faz tempo. Resta saber qual dos lados do País vai permanecer de pé após outubro, quando encararmos o precipício.