Há poucas semanas, o professor da Universidade de Harvard, Joseph Nye, criador do termo Soft Power, concedeu uma entrevista na qual analisou a geopolítica contemporânea impactada pelas mudanças vigorosas que o século 21 impôs às diversas nações.

Os países, como abóboras que são sacolejadas e vão se arrumando enquanto a carroça do destino vai vencendo a estrada esburacada, se preparam para um mundo no qual o futuro permanece imprevisível e incerto.

Essas dúvidas exigirão dos detentores de poder em cada Estado soberano vigilância para não se envolverem em brigas que não lhes pertencem, assumirem lados sem as devidas contrapartidas ou acreditar que países são irmãos siameses inseparáveis.

O novo realinhamento mundial com dois polos principais, liderados agora pelos Estados Unidos e pela China, não nos levará a um déjà vu, semelhante ao status quo anterior  à queda do Muro de Berlim.

Outras potências mundiais estão presentes no cenário e merecem destaque. Índia, Rússia, União Europeia,  Austrália e Brasil, com economias promissoras e interesses diversos, buscam ampliar sua própria influência global.

É impossível saber exatamente como o equilíbrio de poder será estabelecido nos próximos anos.

O Brasil precisará estar atento para confirmar essa avaliação. O cavalo está passando encilhado e temos capacidade de montá-lo.

Segundo Nye, a influência, resultado do poder de cada país, não deve ser mensurado prioritariamente pela capacidade militar contabilizada pelos carros de combates, caças de última geração, submarinos nucleares, porta-aviões ou mísseis intercontinentais.

Eles podem e exercem outras influências, em particular no campo psicossocial, com sua cultura, seu modo de vida, seus valores, suas tradições, sua projeção nos esportes etc.

Como me disse um amigo: todos conhecem Nova York, muitos sem nunca terem estado lá. Milhares de filmes nos transportam àquela bela cidade. Chineses adoram o basquetebol americano. Inglês é o idioma universal. Isso é projeção de poder.

Tivemos um ótimo exemplo do Soft Power brasileiro quando lideramos as forças de paz na missão das Nações Unidas no Haiti.

Bon Bagay”, que significa gente boa, era como nos chamavam os haitianos em geral. As tropas treinadas e equipadas no estado d’arte, na maioria das vezes resolviam conflitos apenas com uma conversa amigável, com uma partida de futebol, ensaiando capoeira, ou batucando um pandeiro nas ações cívico-sociais.

Isso diminuiu as tensões no dia a dia, mesmo após o catastrófico terremoto de 2010, e redundou em êxito inconteste de nossos boinas azuis, restando o exemplo às grandes potências como se pode agir suave em operações dessa natureza.

Outro tema a ser debulhado como afirmação desse poder sem poder é a preocupação com o meio ambiente, alvo constante e atual de interesse mundial, e no qual somos mestres por geografia e comportamento.

Independentemente da origem do problema e das razões que levaram o mundo para as discussões sobre o aquecimento global, derretimento das calotas polares, dejetos em oceanos etc., preservando a nossa soberania, a Amazônia pode ser um ativo Soft Power.

O produto de sua exuberante floresta deve ser considerado uma commodity brasileira e inserida nas negociações das transações comerciais com parceiros mundo afora.

A reconhecida diplomacia verde e amarela, herdeira de Alexandre Gusmão, Barão do Rio Branco e Rui Barbosa, é outro ativo desse poder, que usamos de forma pragmática por longos anos, dando mostras de capacidade de diálogo. Precisaremos reenergizá-la.

São exemplos concretos do quanto poderemos tirar vantagens do modo brasileiro de ser para melhorar as condições gerais de nosso povo.

Indo além da encruzilhada social interna, para também nos fazer um país respeitado e admirado no seio das nações, vacinado contra sectarismos de qualquer matiz, e identificado como uma liderança suprarregional, exemplo a outros países desejosos de parceria na superação  da caminhada ainda pouco iluminada.

Paz e bem!