Os casacos e cachecóis saíram do fundo dos armários no Brasil, que vive uma onda de frio incomum para um mês de maio e que oferece perigos para as milhares de pessoas em situação de rua e também para as lavouras.

Com 1,4ºC, Brasília registrou nesta quinta-feira (19) a temperatura mais fria de sua história, embora o inverno só comece oficialmente no final de junho.

Na página principal do site do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), um mapa do Brasil mostra toda a metade sul na cor laranja, com a legenda: “Onda de frio (perigo)”.

Em São Paulo, a maior megalópole da América Latina, o termômetro marcou 6,6 °C na quarta-feira, um recorde para um mês de maio desde 1990, com sensação térmica de -4°C.

A queda brusca e incomum da temperatura deve-se à ação do ciclone Yakecan, com uma “trajetória anômala”, que arrastou uma corrente de ar da Antártida e “se espalhou pelo interior da América do Sul”, explicou à AFP Estael Sias, meteorologista da agência Metsul.

Um sem-teto de 66 anos morreu enquanto esperava na fila em um centro de distribuição de alimentos de São Paulo. Segundo informações da imprensa, ele havia passado a noite na rua.

A prefeitura de São Paulo anunciou a abertura de 2.000 vagas adicionais em abrigos de emergência, aumentando a capacidade total para pouco mais de 17.000.

Mas a capital econômica do país tem cerca de 32.000 pessoas em situação de rua, o dobro do que havia em 2015 e 31% a mais do que há três anos, antes da pandemia de coronavírus.

Com uma temperatura mínima em torno de 12°C na quinta-feira no Rio de Janeiro, a cidade ainda está longe de ver uma invasão de pinguins na praia de Copacabana, mas muitos cariocas tiraram seus suéteres grossos do armário, inclusive as parkas.

– Atrativo turístico –

Em Santa Catarina, que há vários dias registra temperaturas abaixo dos 2°C, a neve fez a festa dos turistas.

Segundo a Folha de S. Paulo, a pequena cidade de Urupema, que se autodenomina “a mais fria do Brasil, mas cheia de calor humano”, está com mais de 90% de ocupação de seus hotéis.

A cidade, de 2.500 habitantes, recebe visitantes que às vezes vêm de longe, na metade da semana, para ver neve pela primeira vez.

O Inmet também informou sobre “possíveis consequências da onda de frio na agricultura brasileira”, em um país considerado um dos celeiros do planeta.

O instituto mencionou, em particular, o risco de geadas que ameaçam as hortas e também as culturas de milho e cana-de-açúcar.

Sias garantiu que o ciclone faz parte dos eventos climáticos “severos e mais anômalos” que são “consequência da mudança climática”.