Há um ano, a Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (CERN) rompia relações com a Rússia devido à guerra na Ucrânia. Assim, o maior laboratório de física de partículas do mundo passou a cotar novos parceiros para substituir os russos. O Brasil é uma potência para tal, pois já mantém proximidade com o instituto científico.

Desde 2020, o complexo na fronteira entre a Suíça e a França, e o nosso Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), localizado na cidade paulista de Campinas, tratam de colaboração científica e tecnológica. “Um acordo formal para desenvolvimento de componentes supercondutores. O CERN é um dos laboratórios com expertise nesses dispositivos”, explica à ISTOÉ Antônio José Roque da Silva, diretor-geral da instituição.

O CNPEM projetou e construiu o Sirius, equipamento que usa aceleradores de partículas para produzir um tipo especial de luz, chamada, luz síncrotron.

Já a organização internacional é responsável pela operação do Grande Colisor de Hádrons (LHC), que é o mais potente acelerador de partículas do planeta.

Crescimento científico do Brasil

O que acontece agora com o laboratório estrangeiro é um novo capítulo em benefício, claro, dos cientistas brasileiros: uma ampliação da cooperação. Tudo porque um dos projetos do CERN é aumentar a luminosidade do acelerador, sendo necessário desenvolver equipamentos.

A Rússia seria uma das responsáveis pela tecnologia, mas o fim da aliança aconteceu. O Brasil pode atender a demanda, mas precisa se tornar membro associado no CERN. Os trâmites disso ocorrem desde o ano passado, quando o País assinou o Acordo de Acessão. Para ser ratificado, é necessária a aprovação do Congresso Nacional.

Na última semana, uma comitiva do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação esteve em Genebra para articular a adesão ao parque científico. “A parceria que o Brasil firmará com o CERN é fundamental para a continuidade desses trabalhos”, observa Roque da Silva, que viajou à Europa com a delegação.

“O acordo fortalecerá essa participação dos brasileiros e permitirá que possam atuar nas escolhas de experimentos científicos a serem executados no CERN, bem como conceder troca intensa de estudantes e engenheiros.

Segundo Roque da Silva, esse é um ponto a ser levado em conta, pois a comunidade científica nacional teria muito a lucrar. “A possibilidade de técnicos passarem um ou dois anos no CERN para trabalhar em diversas áreas e, eventualmente, retornar ao Brasil, com treinamento diferenciado, seria um ganho.”

Brasil toma o lugar da Rússia em estudos
Organização Europeia para Pesquisa Nuclear: relações rompidas com a Rússia (Crédito:Divulgação)
Brasil toma o lugar da Rússia em estudos
(Divulgação)

O acordo deve ser analisado pelo Congresso ainda nesse ano, pois o País precisa contribuir com US$ 12 milhões anuais. De acordo com a ministra do MCTI, Luciana Santos, o valor não compromete o financiamento e resultará em benefícios para a nossa ciência.

Mais do que isso, será um salto no crescimento científico e tecnológico do País, com proveitos à sociedade e à economia. “Para a indústria nacional, a adesão ao CERN representa a possibilidade de participação nas licitações para fornecimento de produtos e serviços em contratos que somaram US$ 500 milhões nos últimos anos”, detalha à ISTOÉ.

“O acesso a isso pode impulsionar a transferência de tecnologia de ponta para as empresas brasileiras, o desenvolvimento de novos produtos e serviços, a geração de inovação e a formação de recursos humanos altamente qualificados, tornando as companhias nacionais mais competitivas.”

“A adesão do Brasil ao CERN representa a oportunidade de um salto no desenvolvimento científico e tecnológico do País.”
Luciana Santos, ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação

Brasil toma o lugar da Rússia em estudos
Luciana Santos, ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação: Brasil participaria de projetos científicos em nível mais alto (Crédito:Raul Vasconcelos)

Outra vantagem seria o acesso a materiais estratégicos, como o nióbio. A organização já sinalizou que o Brasil poderia atender parte da demanda de ímãs supercondutores que fazem uso do elemento — o País tem cerca de 98% da reserva global do metal.

“Em vez de exportar matéria-prima, o Brasil pode desenvolver a tecnologia para a fabricação de ligas, fornecendo o produto final para aplicação no CERN.”
Luciana Santos, ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação

Além disso, a adesão ampliará a cooperação com o Sirius, que beneficia cada cidadão. “O acelerador de partículas brasileiro realiza pesquisas em áreas estratégicas para o País, como energia, meio ambiente, saúde e defesa, além de assegurar a participação do Brasil na agenda científica internacional no mais alto nível”, evidencia a ministra.

A lista de vantagens do compromisso da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva com a Ciência é promissora.