O Brasil teve, no ano passado, o maior número de mortes violentas do mundo. Foram 70,2 mil mortos, o que equivale a mais de 12% do total de registros em todo o planeta. O alerta faz parte de um novo informe publicado nesta quinta-feira, 7, pela entidade Small Arms Survey, considerada como referência mundial para a questão de violência armada. Em termos absolutos, a entidade aponta que a situação no Brasil supera a violência na Índia, Síria, Nigéria e Venezuela.

Segundo Gergely Hideg, autor do estudo, o número inclui as estatísticas oficiais de homicídios – registradas pelos países – mas também as mortes violentas não intencionais e mortes em intervenções legais. “O número é superior ao que as autoridades afirmam”, disse o pesquisador, cuja instituição é financiada pelo governo da Suíça e tem seus dados usados como base em programas da ONU.

A entidade estima que, em 2016, 560 mil pessoas foram mortas pelo mundo de forma violenta. Isso representa um assassinato a cada minuto. Sozinho, porém, o Brasil representa cerca de 12,5% dessas vítimas.

O tamanho da população certamente tem um impacto nesses números. Mas, por si só, não explica a dimensão da violência. De forma geral, Hideg aponta para três fatores que estariam levando ao cenário de mortes: a falta do estado de direito para uma parcela da população, a cultura da violência e o crime organizado.

Taxa

Se o Brasil lidera o ranking mundial em termos absolutos, é a Síria que tem o maior número de mortes por habitantes. Ela é seguida por El Salvador, Venezuela, Honduras e Afeganistão.

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Nesse caso, a taxa no Brasil subiu entre 2015 para 2016. Era de cerca de 26 para cada 100 mil pessoas e passou para cerca de 30. Além de estar bastante acima da taxa mundial, de 7,5 mortes por 100 mil habitantes, o aumento dos números brasileiros contraria a tendência de queda registrada no mundo.

Ainda por esse critério, o Brasil é o 16º mais violento do mundo, superando, ainda assim, países como Guatemala, Colômbia e República Centro Africana.

Homicídios

Em termos de homicídios, o estudo aponta para 58 mil mortes no Brasil em 2015. Não há dados disponíveis sobre 2016. “Em cidades como o Rio de Janeiro, a violência de gangues, o uso excessivo de força pelo Estado, um sistema de Justiça criminal corrupto, a militarização de certas áreas e o acúmulo social de violência – onde violência gera mais violência – é o que marca as taxas extremamente elevadas de homicídios”, aponta o levantamento.

“Traficantes de drogas, grupos de extermínio e milícias que promovem a extorsão de residentes de áreas inseguras, junto com a polícia e outros funcionários públicos que oferecem proteção a esses grupos, são centrais para a maioria dos crimes violentos que ocorrem no Rio”, constata.

A violência com armas de fogo aumentou no País entre 2015 e 2016. Atualmente, mais de 20% dos homicídios são cometidos com essas armas.

Feminicídio

Outra constatação do levantamento é de que o Brasil tem o terceiro maior número de mortes de mulheres no mundo. De acordo com o estudo, 84% das vítimas de mortes violentas são homens no planeta. Mas meninas e mulheres somaram ainda assim 87 mil mortes.

Em termos absolutos, foram 10,7 mil mortes de mulheres na Índia, 6,4 mil na Nigéria, 5,7 mil no Brasil e 4,4 mil no Paquistão.

Países em guerra

O informe também constata que a maioria das mortes violentas não ocorre em países em guerra. Em 2016, mortes resultantes de conflitos representaram apenas 18% do total de mortes violentas no mundo. Dos 23 países mais perigosos do mundo, apenas nove sofrem com guerras.


Em campos de batalha, o número de mortes foi de 99 mil em 2016, abaixo dos 119 mil em 2015.

Futuro

Se essa realidade não mudar, a Small Arms Survey estima que, até 2030, 610 mil pessoas serão alvos de mortes violentas no mundo a cada ano. O estudo ainda estima que 1,35 milhão de vidas poderiam ser salvas até 2030 se governos reconhecessem a dimensão do problema.

Só em termos de homicídios, 825 mil deles poderiam ser evitados com medidas de controle e prevenção. A América Latina seria a região do mundo que mais se beneficiaria de uma mudança do comportamento de governos, com 489 mil vidas salvas até 2030.


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