Nos cinco primeiros meses de 2025, o Brasil registrou mais de dez mil casos de febre oropouche, número que é próximo do total registrado no ano inteiro de 2024, quando 13 mil pessoas foram diagnosticadas com a enfermidade, de acordo com dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde.
Conforme a pasta, o Espírito Santo foi o estado que liderou o registro de casos neste ano, com 6.123, seguido pelo Rio de Janeiro (1.900), Minas Gerais (682), Paraíba (640) e Ceará (573). O número de casos no País nos primeiros cinco meses de 2025 é 50% maior do que o registrado no mesmo período em 2024.
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Até o momento, o Ministério da saúde pontua que uma morte está em investigação sob suspeita de ter sido causada pela febre oropouche. Apesar disso, secretarias estaduais registraram quatro óbitos pela doença, sendo um no Espírito Santo e três no Rio de Janeiro.
Confira lista de casos por estado:
- Amapá: 80
- Bahia: 5
- Ceará: 573
- Espírito Santo: 6.123
- Minas Gerais: 682
- Mato Grosso do Sul: 1
- Pará: 1
- Paraíba: 640
- Pernambuco: 2
- Piauí: 1
- Paraná: 10
- Rio de Janeiro: 1.900
- Rondônia: 7
- Roraima: 1
- Santa Catarina: 9
- São Paulo: 36
- Tocantins: 5
O que é a febre oropouche?
A febre oropouche é uma doença causada por um arbovírus (vírus transmitido por mosquitos) chamado Orthobunyavirus oropoucheense (OROV). Transmitido aos seres humanos principalmente pela picada do Culicoides paraensis, conhecido como maruim ou mosquito-pólvora, esse vírus foi detectado no Brasil na década de 1960, a partir de amostra de sangue de um bicho-preguiça capturado durante a construção da rodovia Belém-Brasília.
Desde então, casos isolados e surtos foram relatados no Brasil, principalmente nos Estados da região Amazônica. Também já foram relatados casos e surtos em países como Panamá, Argentina, Bolívia, Equador, Peru e Venezuela.
Como ocorre a transmissão?
A transmissão ocorre quando o mosquito maruim pica uma pessoa ou animal infectado e, em seguida, pica uma pessoa saudável, passando a doença para ela. Assim, existem dois tipos de ciclo de transmissão da doença:
Ciclo silvestre: nesse ciclo, animais como bichos-preguiça e macacos são os hospedeiros do vírus. Alguns tipos de mosquito, como o Coquilletti diavenezuelensis e o Aedes serratus, também podem carregar o vírus, mas o maruim é considerado o principal transmissor nesse ciclo.
Ciclo urbano: os humanos são os principais hospedeiros do vírus. O maruim é o vetor principal, porém alguns casos também podem estar associados ao Culex quinquefasciatus, comumente encontrado em ambientes urbanos.
“A diversidade de mosquitos envolvidos na transmissão do vírus é uma das preocupações mais sérias em relação ao aumento de casos no Brasil, especialmente em regiões além da Amazônia, uma vez que a disseminação pode ocorrer de maneira mais rápida, considerando que as pessoas também são hospedeiras”, afirmou a infectologista Emy Gouveia, do Hospital Israelita Albert Einstein, ao “Estadão” em 2024.
Como diferenciar a febre oropouche da dengue?
Além da diferença entre os mosquitos vetores (no caso da dengue, é o Aedes aegypti), as doenças se diferenciam pela evolução do quadro clínico.
Enquanto os pacientes diagnosticados com dengue podem desenvolver dores abdominais intensas e, nos casos mais graves, hemorragias internas, tais sintomas não costumam ser observados na febre oropouche.
No caso da oropouche, especificamente, os quadros mais severos podem envolver o comprometimento do sistema nervoso central, ocasionando meningite asséptica e meningoencefalite, sobretudo em pacientes imunocomprometidos.
Qual a relação entre febre oropouche e microcefalia?
Pesquisadores do Instituto Evandro Chagas (IEC), associado ao Ministério da Saúde, encontraram evidências de que a febre oropouche pode ser passada da mãe para o bebê durante a gestação e iniciaram a investigação sobre a relação entre casos de óbito e malformação fetal com a infecção.
O IEC identificou a presença de anticorpos contra o vírus em quatro bebês nascidos com microcefalia, além de material genético do vírus em um feto natimorto com 30 semanas de gestação.
O ministério fez um alerta para o risco às gestantes, mas destacou que, embora os achados sejam evidências da transmissão vertical do vírus, as limitações do estudo não permitem confirmar que a infecção durante a gestação seja causa de malformações neurológicas nos bebês.
De acordo com Pedro Vasconcelos, pesquisador do IEC e um dos envolvidos na investigação, embora ainda sejam necessários testes que demonstrem a presença de antígenos virais para haver a comprovação, existem grandes chances de o vírus ser, de fato, o causador dos casos de microcefalia documentados.
“Porque o encontro do anticorpo IgM no sistema nervoso central é muito indicativo de infecção no local, ou seja, de que o vírus penetrou, infectou e induziu a formação de anticorpos na região”, afirmou.
O ministério está investigando seis possíveis ocorrências de transmissão vertical da doença. São três casos em Pernambuco, um na Bahia e dois no Acre. Dois casos evoluíram para óbito fetal, houve um aborto espontâneo e três casos apresentaram anomalias congênitas, como a microcefalia.
Quais são os grupos de risco?
De acordo com Gouveia, os idosos e as crianças são os principais grupos de risco. No caso dos idosos, o perigo está relacionado à maior possibilidade de desidratação e presença de comorbidades. Já entre crianças, além da desidratação, a dificuldade de controlar a febre é o que amplia o risco de a doença evoluir.
As autoridades de saúde também chamam a atenção para o cuidado com as gestantes, diante das evidências de transmissão vertical e da possibilidade de o vírus afetar os bebês.
Como prevenir?
De acordo com o Ministério da Saúde, as formas de prevenção incluem:
- Evitar áreas onde há muitos mosquitos, se possível;
- Usar roupas que cubram a maior parte do corpo e aplicar repelente nas áreas expostas;
- Manter a casa limpa, removendo possíveis criadouros de mosquitos, como potes com água parada e folhas acumuladas;
- Se houver casos confirmados na sua região, é recomendado seguir as orientações da autoridade de saúde local para reduzir o risco de transmissão.
Como o diagnóstico é feito?
O exame que identifica a doença é o RT-PCR desenvolvido pela Fiocruz Amazonas. A análise é feita a partir do sangue do paciente nos Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacens).
Por causa da disponibilidade restrita de exames, eles são realizados apenas em pessoas com sintomas típicos da fase aguda da doença ou que testaram negativo para dengue ou chikungunya. Além disso, quando o paciente não é da Amazônia, mas teve passagem pela região, a atenção é redobrada.
O Ministério da Saúde orienta que todos os casos suspeitos e/ou com diagnóstico laboratorial de infecção pelo OROV devem ser investigados, visando a descrever as características clínicas e epidemiológicas, bem como identificar as espécies de vetor envolvidas na transmissão.
Como é o tratamento?
Ainda não há um medicamento específico para tratar a febre oropouche. Por isso, o tratamento é de suporte, ou seja, costumam ser administradas medicações para dor, náuseas e febre, além da indicação de hidratação e repouso.
*Com informações do Estadão