Brasil promete lutar contra a “injustiça” tarifária de Trump

O governo brasileiro prometeu nesta quinta-feira (31) combater a “injustiça” tarifária do presidente Donald Trump, apesar do alívio concedido a certos setores exportadores, e advertiu que recorrerá a tribunais internacionais caso fracassem as negociações previstas com os Estados Unidos.

As novas tarifas alfandegárias de 50%, que entrarão em vigor em 6 de agosto, incidirão sobre o café e a carne – dois produtos dos quais o Brasil é o principal exportador mundial.

Outras exportações importantes, como suco de laranja, aeronaves civis e seus componentes, além de fertilizantes, foram excluídas. No total, cerca de 700 produtos estarão sujeitos apenas às tarifas de 10% já anunciadas em abril.

Para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, “o ponto de partida é melhor do que se esperava mas estamos longe do ponto de chegada”, disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Em declarações à imprensa em Brasília, Haddad anunciou que conversará com seu homólogo americano, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, e que haverá “uma rodada de negociações”.

“Há muita injustiça” nas medidas dos Estados Unidos e é preciso fazer “correções” para alcançar uma situação satisfatória para o Brasil, afirmou.

O ministro também anunciou a intenção do Brasil de “recorrer nas instâncias devidas, tanto nos Estados Unidos quanto nos organismos internacionais”.

O vice-presidente Geraldo Alckmin, principal responsável pelo diálogo com Washington, foi enfático: “A negociação não termina hoje, começa hoje”, declarou à TV Globo.

As novas tarifas afetarão 35,9% das exportações do Brasil para os Estados Unidos, o que equivale a 14,5 bilhões de dólares em 2024, segundo dados oficiais.

– “Impacto relevante” –

As tarifas impostas ao Brasil estão entre as mais elevadas decretadas pela administração Trump contra parceiros comerciais.

Para o economista Reginaldo Nogueira, diretor da universidade Ibmec, “a medida é dura e terá um impacto relevante sobre setores importantes da economia brasileira”.

“As exclusões ajudam a aliviar parte da pressão sobre o Brasil, mas, acima de tudo, preservam insumos estratégicos para a economia americana”, disse à AFP.

O governo Lula lançará nos próximos dias um programa de medidas de proteção às empresas exportadoras mais afetadas, segundo Haddad.

O presidente Lula denunciou as medidas dos Estados Unidos como um ataque à “soberania” da maior economia da América do Sul.

Em meio à crise, a aprovação do presidente superou os 50% pela primeira vez em 2025, chegando a 50,2%, segundo pesquisa da Atlas Intel divulgada nesta quinta-feira.

“A última vez que o presidente registrou um saldo positivo de aprovação foi em outubro de 2024”, avaliou a Atlas.

– “Alerta” –

A maior crise em décadas entre as duas principais economias das Américas não se deve a motivos econômicos: os Estados Unidos têm superávit comercial com o Brasil, ao contrário do que acontece com outros países que foram alvo das novas tarifas estabelecidas pela Casa Branca.

As medidas de Trump contra o governo de Lula foram formuladas em termos políticos: o republicano denuncia uma suposta “caça às bruxas” contra seu aliado, o ex-presidente Jair Bolsonaro, atualmente julgado no Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeita de conspiração golpista.

“A perseguição, a intimidação, o assédio, a censura e o processo por motivos políticos promovidos pelo governo brasileiro contra [Bolsonaro] e milhares de seus apoiadores são graves abusos dos direitos humanos que minaram o Estado de Direito no Brasil”, afirmou a Casa Branca na quarta-feira, ao anunciar as novas sobretaxas.

Quase simultaneamente ao decreto tarifário, a administração Trump aplicou sanções econômicas contra Alexandre de Moraes, o ministro do STF responsável pelo caso contra Bolsonaro.

Segundo Washington, que já havia revogado seu visto, Moraes “abusou de sua autoridade”.

As sanções incluem o bloqueio de todos os eventuais ativos de Moraes nos Estados Unidos e a proibição de cidadãos e empresas americanas de realizarem negócios com ele.

Uma fonte do Judiciário brasileiro disse, no entanto, à AFP que “o juiz não tem bens nos Estados Unidos”.

O ataque a Moraes foi especialmente celebrado por Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, que em março pediu licença de seu mandato de deputado federal e se mudou para os Estados Unidos com o objetivo de pressionar o governo Trump contra os poderes Executivo e Judiciário do Brasil.

“É um marco histórico e um alerta: abuso de autoridade tem consequências globais”, escreveu ele no X.

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