O Brasil quer que sua COP, a primeira na Amazônia, seja um sucesso, e seus diplomatas fizeram os negociadores trabalharem novamente até a noite nesta terça-feira (18) na esperança – considerada otimista – de alcançar um primeiro consenso na quarta-feira, na presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
É incomum que chefes de Estado, depois de inaugurar a COP, retornem na reta final da conferência. A de Belém deve ser concluída na sexta-feira.
Mas Lula investiu um capital político importante para o sucesso da COP30 da ONU.
Seu objetivo: “impor uma nova derrota” aos negacionistas do clima e demonstrar, no coração da Amazônia, que o mundo não abandonou a cooperação climática, apesar das turbulências geopolíticas e econômicas.
Mas os países também não abandonaram suas linhas vermelhas e, embora não tenha havido rupturas até agora, os ministros estão longe de ter cedido terreno.
Um rascunho de compromisso apresentado pela presidência brasileira da conferência ainda continua em discussão.
O texto inclui opções contraditórias sobre a responsabilidade financeira dos países desenvolvidos, a eliminação dos combustíveis fósseis e as “medidas comerciais unilaterais”.
Outra versão é esperada na quarta-feira, e o presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, advertiu com um sorriso que a quarta-feira também “pode terminar tarde”.
– A “alquimia” das COP –
“Como sempre [acontece] nesta fase das negociações, é uma miscelânea de coisas”, resumiu à AFP o comissário europeu de mudanças climáticas, Wopke Hoekstra.
“Não é particularmente equilibrado, mas é um primeiro rascunho”, disse a jornalistas a enviada para o clima do Reino Unido, Rachel Kyte. “Os brasileiros têm um calendário muito ambicioso. Acho que isso coloca muita pressão sobre os delegados, mas existe uma alquimia própria de cada COP”, acrescentou.
A União Europeia (UE), disse Hoekstra, descarta revisar os compromissos financeiros contra as mudanças climáticas ou “ser arrastada para uma conversa falsa sobre medidas comerciais”.
A pretensão europeia de impor tarifas sobre produtos ou matérias que não cumpram seus critérios ambientais irrita a China e outros países exportadores.
– “Mutirão” –
A estratégia brasileira é aprovar primeiro um texto mais político e complexo, batizado como “Mutirão mundial”, para depois votar o restante das medidas na sexta-feira.
O rascunho foi publicado incomumente cedo na semana, em comparação com o ritmo habitual das COP.
Segundo as regras da convenção da ONU sobre o clima, o consenso entre os 194 países membros do Acordo de Paris, e a União Europeia, é necessário para a adoção de qualquer texto.
Uma coalizão de países europeus, latino-americanos e Estados insulares luta em Belém para enviar uma mensagem muito clara sobre a continuidade da luta climática e avançar muito mais na eliminação dos combustíveis fósseis.
Um grupo de países que inclui europeus, Colômbia e Quênia ergue a voz e se opõe aos países produtores de petróleo, amplamente silenciosos em Belém.
“A referência atual é fraca e é apresentada como uma opção: deve ser fortalecida e adotada”, pediu em coletiva de imprensa a negociadora climática das Ilhas Marshall, Tina Stege.
O texto sugere triplicar os financiamentos dos países ricos aos mais pobres para sua adaptação à mudança climática, para 2030 ou 2035, o que corresponde a uma demanda dos países do Sul.
Sem uma decisão financeira sobre a adaptação, “tudo o que se discute aqui é apenas simbólico”, opina Lina Yassin, pesquisadora e delegada do Sudão. “Voltaremos para casa e amanhã nada terá mudado”.
A habilidade diplomática brasileira permitirá encontrar um ponto de equilíbrio entre as demandas da China, da Índia, dos países ocidentais, dos países africanos…?
“Devemos mostrar ao mundo que o multilateralismo está vivo”, declarou Josephine Moote, representante do arquipélago de Kiribati, no Pacífico.
Ed Miliband, ministro britânico de Energia, pediu que se mantenha a “fé no multilateralismo”.
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