Brasil perde um estado do RJ de vegetação nativa nos últimos três anos

Brasil perde um estado do RJ de vegetação nativa nos últimos três anos

De acordo com dados do Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD), do MapBiomas, divulgados nesta segunda-feira 18, o desmatamento no Brasil aumentou cerca de 20% em 2021 em relação ao ano anterior. Foram cerca de 16.557 km² destruídos de cobertura de vegetação natural em todos os biomas brasileiros. Por hora, o Brasil perdeu 189 hectares de vegetação nativa no decorrer do ano passado. Entre os anos de 2019 e 2021, no intervalo de apenas três anos, o Brasil perdeu, em vegetação nativa, o equivalente a praticamente um Estado do Rio de Janeiro, com 42 mil quilômetros quadrados de área desmatada. A velocidade média de desmatamento no Brasil também cresceu de 0,16 hectares por dia em 2020 para 0,18 hectares por dia em 2021.

Conforme dados do relatório, os quais foram feitos com base em análises de imagens de satélites para identificar os principais causadores de desmatamento, entre os anos de 2019 e 2021 a atividade de agropecuária correspondeu a pelo menos 97,8% da área desmatada no País, sendo a principal responsável pelo desmatamento, ”seja pecuária, seja agricultura”. Os outros 2,2% sofreram desmatamento por mineração, expansão urbana e garimpo, entre outros. Apenas 1% das ações de desmate são realizadas com base na lei de maneira legal: 77% da área total desmatada no Brasil, no ano passado, se aplica á imóveis rurais registrados no CAR (Cadastro Ambiental Rural ).

Segundo Tasso Azevedo, engenheiro florestal e coordenador do MapBiomas, não existe interesse por parte do órgão ambiental de enfrentar e resolver o problema do desmatamento. “Três em cada quatro desmatamentos detectados no Brasil você consegue identificar um responsável, porque está no cadastro (CAR). Então deveria ter as ações sobre eles. O que vemos é que não existe, por parte da direção do órgão ambiental à nível federal, a vontade de enfrentar esse problema de frente”, exemplifica Azevedo.

Embora a área desmatada seja extremamente vasta, as ações estão concentradas nas mãos de poucos. O desmatamento em imóveis registrados no CAR sucedeu em apenas cerca de 0,9% das propriedades em 2021. Entre os anos de 2019 e 2021, apenas 2% dos imóveis rurais tiveram desmatamento. “O desmatamento no Brasil é um fenômeno feito por poucos, em detrimento de muitos”, afirma o coordenador do MapBiomas.

A Amazônia foi a mais prejudicada com o desmatamento em todo o país, correspondendo a 59% da área desmatada e 66,8% dos alertas de desmatamento no ano passado, chegando a perder cerca de 18 árvores por segundo. Seguida pelo Cerrado (30%) e logo atrás pela Caatinga (7%). “Foram 997 mil hectares de vegetação nativa destruídos no ano passado – um crescimento de quase 15% em relação aos 851 mil hectares desmatados em 2020 que, por sua vez, já haviam representado um aumento de 10% em relação aos 771 mil hectares de desmate em 2019”, diz o documento.
O Pará foi o estado brasileiro que mais desmatou no ano passado, com 409 mil hectares de desflorestamento, em segundo lugar está o estado do Amazonas, com 194 mil hectares, eguido pelo Mato Grosso (189 mil hectares), Maranhão (167 mil hectares) e Bahia (152 mil hectares). Os cinco estados somados representam o total de 55% de vegetação destruída em 2021.

O estado do Amazonas, que foi pressionado pelo garimpo ilegal, por invasão de terras públicas, como também pelo projeto de pavimentação da BR-319, obteve um salto de 50% no desmatamento no ano de 2021 em relação ao ano anterior. “O Amazonas sempre foi um estado bem conservado, mas chegou a ser o 1º em desmatamento em alguns meses deste ano”, afirma Azevedo.

O relatório ainda afirma que os órgãos de controle ambiental responsáveis por reprimir o desmatamento ilegal o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), atingiram, com embargos, somente 2,4% dos desmatamentos e 10,5% da área desmatada identificada entre 2019 e 2021, até maio deste ano. “O impacto vai para todo mundo. Desmata, diminui as chuvas, aumenta o custo da energia, sobe a temperatura, dá prejuízo a toda a produção rural, gera fogo e prejudica a saúde das pessoas”.

Para resolver o problema da ilegalidade é necessário atacar a impunidade. “O risco de ser penalizado e responsabilizado pela destruição ilegal da vegetação nativa precisa ser real e devidamente percebido pelos infratores ambientais. É necessário assegurar que todo o desmatamento seja detectado e reportado; que todo o desmatamento ilegal receba ação de responsabilização e punição dos infratores; e que o infrator não se beneficie da área desmatada ilegalmente e receba algum tipo de penalização”, afirmou, em nota, Tasso Azevedo.