O Brasil está doente. Perdemos o rumo. E não é de hoje. O resultado das eleições é apenas mais um sinal de um País que, no passado, conseguiu enfrentar e vencer desafios e até ser exemplo para o mundo. Éramos a Nação do futuro. Mas o que somos hoje? A presença do bolsonarismo como protagonista político é um desafio constante para a nossa democracia. Porém, livremente, o eleitor escolheu a barbárie. Por que o fez? Baixa consciência política? Indiferença? Ou identificação com a visão extremista e antidemocrática do bolsonarismo?

O bolsonarismo é a mais perfeita tradução da maldade brasileira, pior, muito pior, do que o extremismo que já estava presente na nossa história do século XX, como no integralismo de Plínio Salgado. O bolsonarismo é a negação de todos os valores democráticos da civilização ocidental. É a consagração como mote político do cada um por si. Não há qualquer perspectiva humanitária, de solidariedade, de pertencimento.

O bolsonarismo é a negação de todos os valores democráticos da civilização ocidental

É o retorno ao mundo da sociedade latifundiária, do mando sem as travas da justiça. É uma versão muito mais radical do que aquela retratada no clássico “Coronelismo, enxada e voto” de Victor Nunes Leal.

O ódio aos pobres e aos novos dilemas apresentados no século XXI, a negação da democracia como convivência de contrários, a defesa da violência na política e na vida cotidiana, vão paulatinamente se incorporando à sociedade brasileira. Está nascendo outro Brasil, que não é aquele que nós conhecíamos. Este é a antítese daquele retratado em clássicos, como “Raízes do Brasil”
de Sérgio Buarque de Holanda.

O reacionarismo está, tudo indica, enraizado no Brasil contemporâneo. Jair Bolsonaro deixou de ser um ponto fora da curva. Pelo contrário, é o representante maior da barbárie na política, na economia, na sociedade, nas relações diplomáticas, nas relações profissionais e pessoais.

É exemplar nesse processo o papel de São Paulo. O eleitorado optou por colocar em primeiro lugar, no último dia 2, na disputa pelo governo um forasteiro, sem nenhuma ligação profissional, familiar, pessoal, com o estado. Melhor dizendo: dois forasteiros: o Marcos Pontes, eleito senador, tem sua família morando no Texas. Ou seja, o estado onde nasceu o abolicionismo, a república, a legislação trabalhista, o voto secreto, o voto das mulheres, a industrialização, a modernidade cultural, entre outras contribuições do estado para o Brasil, agora resolveu renunciar ao seu protagonismo e entregou seu destino aos aventureiros. Triste São Paulo, triste Brasil.