O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta segunda-feira que o Brasil não será mais “o paraíso dos bandidos”, após a confissão de seus crimes do ex-ativista Cesare Battisti, que durante seus anos de exílio no Brasil foi considerado, segundo definiu, um “herói da esquerda” brasileira.

“Por anos denunciei a proteção dada ao terrorista, aqui tratado como exilado político”, afirmou o presidente conservador no Twitter, junto com uma foto de 2009 em que Battisti é visto cercado por vários políticos do Partido dos Trabalhadores (PT, então no poder) e do PSOL.

“Nas eleições, firmei o compromisso de mandá-lo de volta à Itália para que pagasse por seus crimes. A nova posição do Brasil é um recado ao mundo: não seremos mais o paraíso de bandidos!”, acrescentou.

Em outro tuíte, Bolsonaro classificou Battisti de “herói da esquerda, que vivia numa colônia de férias no Brasil proporcionada e apoiada pelo governo do PT e suas linhas auxiliares (PSOL, PCdoB, MST)”.

Battisti, extraditado para a Itália em janeiro da Bolívia após fugir do Brasil, admitiu nesta segunda-feira ante um juiz sua responsabilidade em quatro assassinatos nos anos setenta, pelos quais foi condenado à prisão perpétua, e lamentou ter acreditado na luta armada, de acordo com o gabinete do Procurador italiano.

A promessa de extraditar o ex-ativista italiano foi uma das grandes bandeiras da campanha de Bolsonaro para as eleições presidenciais de outubro.

Battisti, 64 anos, foi condenado pela primeira vez na Itália no início da década de 1980. Na época, foi sentenciado a 13 anos de prisão por pertencer ao PAC durante os “anos de chumbo”. Fugiu em 1981.

Acabou sendo julgado à revelia em 1993 e condenado à prisão perpétua por quatro homicídios e por cumplicidade em outros assassinatos no final dos anos 1970.

Viveu por 15 anos no exílio na França, protegido pelo governo socialista de François Mitterrand, onde se tornou um autor de sucesso de romances policiais.

Depois de um período no México, retornou à França, mas, em 2004, viu-se obrigado a sair deste país: os ventos políticos mudaram. Refugiou-se clandestinamente no Brasil, antes de ser preso no Rio de Janeiro em 2007.

Em 2010, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou sua extradição para a Itália após um longo processo judicial com uma estada na prisão. No último dia de seu mandato, Lula outorgou a Battisti o “status” de refugiado político.

Em 13 de dezembro passado, o Supremo Tribunal Federal ordenou sua prisão “para ser extraditado”.

A extradição foi assinada no dia seguinte pelo então presidente, Michel Temer, mas as autoridades brasileiras perderam seu rastro.

Foi depois localizado Santa Cruz de la Sierra, onde as polícias boliviana e italiana prepararam sua prisão, efetivada em 12 de janeiro.

A foto de Battisti postada por Bolsonaro data de uma visita feita em 2009 por membros das Comissões de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e do Senado, principalmente PT e PSOL, ao ativista italiano na prisão de Papuda, em Brasília, de acordo com a equipe de verificação de dados da AFP.