O segundo dia do Cannes Lions – Festival Internacional de Criatividade trouxe um prêmio inédito para o Brasil: um Grand Prix (grande prêmio) na categoria Entertainment Lions for Music, dedicada a trabalhos criativos que transitam pelo universo da música. A premiação está também ligada ao Lions Entertainment, um dos eventos paralelos de Cannes Lions.

O Grande Prêmio foi conquistado pela agência Akqa – com Stink Films e Coala.lab – para o lançamento do segundo álbum do rapper Baco Exu do Blues, intitulado Bluesman. O clipe e a plataforma de lançamento foram “empacotados” em um projeto que discutiu a divisão racial no Brasil.

A equipe da Akqa trabalhou a simbologia de imagens das peças ligadas ao álbum para propor a reflexão sobre os conceitos de raça atuais. O filme, por exemplo, mostra um personagem negro correndo, apenas para desafiar a (provável) expectativa do espectador – a pessoa corre porque está atrasada para o trabalho e não porque cometeu um crime.

“Escolhemos Bluesman como o Grand Prix do ano porque é brilhante: é um trabalho de arte feito com classe”, disse Paulette Long, presidente do júri de Entertainment Lions for Music. “O curta-metragem (que ajudou a lançar o álbum) reverte a simbologia da dominação branca para combater o racismo institucionalizado.”

Hugo Veiga, diretor-executivo de criação da Akqa, disse ao Estado que o lançamento reforçou a intenção de dar poder à comunidade negra. Para ele, a representação, rara no entretenimento e na propaganda produzida no País, acabou por gerar um movimento de homens e mulheres que se autodeclararam “Bluesmen“. “Usamos como atores membros da Ocupação 9 de Julho, símbolo de resistência em São Paulo.”

Colocar o dedo na ferida do racismo na sociedade brasileira acabou ajudando também no objetivo central da campanha, que era dar mais visibilidade ao trabalho do rapper brasileiro. “Ver um talento baiano ganhando holofotes no mundo dá esperança a muita gente”, diz Diego Machado, fundador e diretor de criação da Akqa.

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Mais prêmios. O júri de Entertainment Lions for Music atribuiu outro Grand Prix ao Brasil – pelo trabalho This is America, do rapper americano Childish Gambino (“persona” musical do ator Donald Glover). A peça foi inscrita no festival pelo publicitário brasileiro Daniel da Hora, da DH, LO, com autorização dos realizadores – permitido nas regras de Cannes Lions. Ao Estado, o próprio Daniel disse que se trata de um prêmio dos EUA, e não brasileiro. Na cerimônia, os americanos receberam o Grande Prêmio.

Ainda na mesma categoria, o Brasil ainda levou um Leão de Ouro (para uma campanha da Artplan sobre violência contra as mulheres, desenvolvida para o governo federal) e um bronze (Talent Marcel, para a Orquestra Sinfônica de São Paulo – Osesp). Cada Grand Prix “engorda” a conta de Leões de ouro do País em duas unidades. Sendo assim, o Brasil contabilizou quatro Leões na categoria – isto é, se o segundo Grande Prêmio não for repassado aos EUA até o fim do festival.

O desempenho também foi positivo em Entertainment Lions for Sport. Foram três Leões: um de ouro (VMLY&R para Vivo), uma prata e um bronze. Em Digital Craft, que analisa o resultado artístico de campanhas em meios digitais, o Brasil ganhou um bronze. Em Film Craft, uma campanha da Wieden+Kennedy para a Lacta ficou com um Leão de ouro. Em Industry Craft, foram sete Leões de prata e quatro bronzes.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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