O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou nesta quinta-feira (13) que o país está “de volta” ao cenário internacional, no início de uma viagem à China para falar sobre o conflito na Ucrânia e investimentos.

Lula, que desembarcou na quarta-feira à noite em Xangai, terá uma reunião na sexta-feira (14) com o presidente da China, Xi Jinping, em Pequim para tentar formar um grupo grupo de países mediadores na guerra que devasta a Ucrânia.

“A época em que o Brasil estava ausente nas grandes decisões mundiais já é coisa do passado. Estamos de volta no cenário internacional depois de uma ausência inexplicável”, declarou em seu primeiro evento oficial no país.

Lula compareceu nesta quinta-feira em Xangai à cerimônia de posse da ex-presidente brasileira Dilma Rousseff (2011-2016) como presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDV, na sigla em inglês) dos BRICS, o grupo de grandes países emergentes que reúne Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul.

Desde seu retorno ao poder em 1º de janeiro, o presidente esquerdista deseja recolocar o Brasil “na nova geopolítica mundial” e deixar para trás o isolacionismo de seu antecessor, o político de extrema-direita Jair Bolsonaro.

Lula, que viajou em janeiro para Argentina e Uruguai e no mês seguinte para os Estados Unidos, a princípio deveria ter visitado a China, principal parceiro comercial do Brasil desde 2009, entre 25 e 31 de março, mas a viagem foi adiada devido a uma pneumonia.

O presidente brasileiro, de 77 anos, chegou a Xangai na quarta-feira, acompanhado da primeira-dama, Rosângela “Janja” da Silva, e foi recebido no aeroporto pelo vice-ministro das Relações Exteriores da China, Xie Feng.

“O Brasil está de volta com a disposição de contribuir novamente para um mundo mais desenvolvido, mais justo e ambientalmente sustentável”, afirmou durante a cerimônia no banco dos BRICS.

Ele também elogiou o papel do banco dos BRICS como “ferramenta de redução da desigualdade entre países ricos e emergentes”, com um “grande potencial transformador” porque libera os países emergentes do que denunciou como submissão às instituições financeiras tradicionais.

– Economia –

Lula viajou com uma comitiva que inclui quase 40 representantes políticos, incluindo nove ministros, governadores de estados, deputados e senadores, além de empresários.

Esta é a quarta visita oficial de Lula à China. O presidente iniciou em janeiro seu terceiro mandato como presidente, depois do período entre 2003 e 2010.

Desde seu primeiro mandato, as relações entre a China e o Brasil registraram um forte impulso. Após a primeira visita do petista, em 2004, o volume de comércio entre as duas economias cresceu 21 vezes, segundo o Palácio do Planalto.

Em 2022, o gigante asiático importou do Brasil 89,7 bilhões de dólares (443 bilhões de reais), com destaque para soja e minerais, e exportou um valor de US$ 60,74 bilhões (R$ 300 bilhões), segundo o governo brasileiro.

“Vamos consolidar nossa relação com a China. Vou convidar Xi Jinping para uma reunião bilateral no Brasil, para mostrar os projetos nos quais temos interesse em investimentos chinês”, disse Lula antes da viagem.

O primeiro dia em Xangai tem uma agenda econômica, com uma visita a um centro de pesquisas da Huawei e uma reunião com o presidente da maior fabricante de carros elétricos da China, o conglomerado BYD.

Em outubro, o grupo BYD, que já produz ônibus e carros elétricos no Brasil, anunciou que planejava abrir uma fábrica de automóveis na Bahia, depois que a Ford Motors fechou sua fábrica no estado.

A Huawei venceu uma licitação para fornecer os equipamentos para a implementação da tecnologia 5G no Brasil em 2021, mesmo ano em que os Estados Unidos colocaram a empresa na lista de grupos chineses que apresentavam um “risco inaceitável” a sua segurança nacional.

– Mediação na Ucrânia –

Durante a noite, Lula seguirá para Pequim, onde a agenda terá um rumo mais político com o encontro na sexta-feira com Xi Jinping, com quem deverá abordar o conflito na Ucrânia.

Brasil e China têm em comum o fato de não terem imposto sanções à Rússia e esperam desempenhar um papel de mediação no conflito.

Na semana passada, o presidente brasileiro disse que a Ucrânia “não pode querer tudo” e sugeriu a possibilidade de Kiev ceder o território da península da Crimeia, cuja anexação de 2014 por Moscou não é reconhecida pelo governo ucraniano.

O porta-voz da diplomacia ucraniana, Oleg Nikolenko, respondeu que não há razão para “abandonar um único centímetro do território ucraniano”, mas agradeceu “os esforços do presidente brasileiro para encontrar uma maneira de impedir a agressão russa”.

Lula propõe formar um grupo de países para trabalhar em uma solução negociada para o conflito causado pela invasão russa. Após seu retorno da China, esse grupo estará “criado”, prometeu.