Serguei Vladimir Cherkasov é o espião russo detido na penitenciária de segurança máxima de Brasília. Por anos, conseguiu se passar por Victor Mueller Ferreira e, com passaporte brasileiro, circular pelo mundo, chegando a estudar na Irlanda, pagar uma pós-graduação na conceituada Universidade John Hopkins, nos EUA, e, com isso, se candidatar a um estágio no Tribunal Internacional de Haia. Ao desembarcar na Holanda, um alerta do FBI por espionagem provocou sua deportação para o Brasil, onde foi detido em abril de 2022. Seu pedido de extradição pelo governo da Rússia foi concedido pelo STF em 17 de março, a ser cumprido somente depois de encerradas as investigações da Polícia Federal sobre suas atividades no Brasil. Cherkasov, 36 anos, se tornou suspeito de espionar para a OPS, Forças de Operações Especiais de seu país, além de corrupção e lavagem de dinheiro.

Segundo o FBI, o russo pagou com bitcoins o curso na Irlanda, onde também teria conseguido o passaporte brasileiro por meio de outros documentos falsos, obtidos no Rio de Janeiro, cidade onde dizia ter nascido e onde se manteve por pelo menos dez anos com documentos falsos. Do que foi lhe confiscado no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, surgiram os indícios de que contava com uma “rede de apoio no Brasil”, porque chegou a comprar imóvel para ter endereço fixo.

Mais dois russos são acusados de se passar por brasileiros para espionagem. Gerhard Daniel Campos Wittich, que alegava ascendência austríaca, também morou por cinco anos no Rio de Janeiro, onde montou empresa que chegou a vender mais de R$ 26 mil entre 2020 e 2022 em produtos para órgãos públicos, como já reconhecido pela Marinha, por exemplo. De sobrenome verdadeiro Shmyrev, segundo a imprensa internacional, teve imóvel alugado a meia quadra do consulado dos EUA na cidade. Em janeiro, depois de dizer à namorada que iria à Malásia, foi dado como desaparecido por ela, que começou uma campanha por redes sociais. Foi descoberto por rastreamento de agentes da inteligência na Grécia, onde morava sua mulher, também espiã (os dois estariam planejando voltar a Moscou).

Guerra fria

Um terceiro espião russo que se passou por brasileiro foi descoberto como pesquisador em uma universidade da Noruega, no ano passado: Mikhail Valeryevich Mikushin, que se dizia José Assis Giammaria (sem rastros de passagem pelo Brasil). Ainda mais russos (ao menos seis) já foram detectados em outros países como espiões.

Com a Guerra Fria voltando a assombrar o mundo e conflitos até em trincheiras da Ucrânia, como na Segunda Guerra Mundial, esses personagens também voltaram. Mas agora não apenas em cenários de cinema, como o Rick’s Café, o imortalizado antro de espiões do filme Casablanca.