O Brasil caminha para se transformar em um Estado-pária da comunidade internacional. Como a África do Sul na época do apartheid. O extremismo do Itamaraty sob comando indireto de Ernesto Araújo — indireto porque o que poderia ser chamado de “ideias” provém dos Estados Unidos — trouxe, em menos de dois anos, o maior prejuízo até hoje sofrido pelo Brasil nas relações internacionais. Na Europa, os nossos principais parceiros se afastaram. Também no caso do Parlamento Europeu a rejeição é patente. Restou o apoio de dois governos extremistas (e antissemitas): a Polônia e a Hungria, com os quais o nosso intercâmbio comercial é desprezível. Nos Estados Unidos, tudo indica, que as eleições de novembro vão dar a vitória a Joe Biden. No Congresso, a hostilidade em relação ao governo Bolsonaro continuará grande, como na Câmara dos Representantes, que tem maioria democrata, e no Senado, onde há também a possibilidade de os republicanos perderem o controle daquela Casa. Desta forma, teremos, inevitavelmente, muitos problemas a partir de janeiro do próximo ano com nosso histórico parceiro. Tudo isso deve ser creditado à irresponsabilidade de Bolsonaro que, pela primeira vez na nossa história, se submeteu, voluntariamente, ao governo americano de plantão. O servilismo será cobrado e o custo será alto para as nossas relações econômicas.

O plebiscito chileno demonstrou que há um limite
para a paciência popular

Na América do Sul, o quadro não será distinto. Hoje o Brasil tem relações de tensão com a maioria dos nossos vizinhos e parceiros comerciais. Os constantes ataques à Argentina, que, com o Brasil, constitui a base do Mercosul, não sinaliza que poderá haver um diálogo construtivo, inclusive em relação ao acordo (que não vai ser concluído) com a União Europeia. A vitória do MAS, na Bolívia, foi mais uma derrota para o extremismo. O plebiscito chileno demonstrou que há um limite para a paciência popular. Uruguai e Paraguai mantêm governos considerados conservadores, mas que mantém uma silenciosa distância dos arroubos reacionários de Bolsonaro. O resto do subcontinente assiste preocupado o rumo perigoso do governo brasileiro.

Por fim, a China, com a sua visão milenar de mundo (e da política), aguarda a hora adequada para responder às violentas investidas do bolsonarismo. Não custa lembrar que o Brasil não detém o monopólio mundial da extração de minério de ferro, nem da produção de grãos, açúcares e carnes. E não faltam no mundo bons locais para investimentos lucrativos. O extremismo vai cobrar seu preço – e será alto.