Uma crise diplomática entre Brasil e Israel eclodiu após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comparar, em entrevista coletiva durante viagem oficial à Etiópia, a atual guerra na Faixa de Gaza com o Holocausto nazista. Desde o dia 18 de fevereiro os dois países têm criticado um ao outro e subido o tom de suas declarações.

Durante discurso na 37ª Cúpula da União Africana, Lula condenou a ação de países desenvolvidos em cortar ajuda humanitária na região de Gaza e afirmou que o que está acontecendo “com o povo palestino não existiu em nenhum momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”. “Não é uma guerra entre soldados e soldados. É uma guerra entre um Exército altamente preparado e mulheres e crianças”, acrescentou.

A declaração provocou fortes reações do governo israelense, tanto que o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, disse que a fala do petista “banaliza o Holocausto e tenta prejudicar o povo judeu e o direito de Israel se defender”.

No dia 18 de fevereiro, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, escreveu por meio de uma publicação no X (antigo Twitter) que “as palavras do presidente do Brasil são vergonhosas e graves. Ninguém prejudicará o direito de Israel se defender. Ordenei ao pessoal do meu gabinete que convoque o embaixador brasileiro para uma chamada de repreensão amanhã”.

A convocação ocorreu e o embaixador do Brasil em Tel Aviv, Frederico Meyer, foi ao centro memorial do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém, onde recebeu uma advertência pelas declarações de Lula. O Itamaraty demonstrou irritação com a atitude de Katz, por considerar que a reunião no museu quebrou o protocolo, pois deveria ter sido em um local apropriado e privada entre os dois diplomatas e não pública e com a presença da mídia.

Na segunda-feira, 19, Israel Katz declarou Lula como “persona non grata” enquanto não se retratar e pedir desculpas. A expressão é do latim e serve como prerrogativa para que estados indiquem que um representante oficial estrangeiro não é bem-vindo em seu território.

Após a reunião no centro memorial do Holocausto Yad Vashem, o governo brasileiro convocou o embaixador Frederico Meyer para retornar a Brasília (DF) para consultas. Ele deve chegar em território nacional nesta quarta-feira, 21. Além dele, o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, foi chamado a comparecer ao Palácio Itamaraty, no Rio de Janeiro, na segunda-feira, 19, para que o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, demonstrasse a sua insatisfação pelo tratamento dado a Lula.

De acordo com a nota divulgada pelo Itamaraty, as medidas foram tomadas “diante da gravidade das declarações do governo de Israel”. O ministro Vieira, encontra-se no Rio de Janeiro para a reunião do G20.

Em sequência rápida, Katz escalonou o tom na terça-feira, 20, ao publicar em português no X: “Que vergonha. Sua comparação é promíscua, delirante. Vergonha para o Brasil e um cuspe no rosto dos judeus brasileiros”.

O ministro Mauro Vieira reagiu e acusou o colega isaraelense de dar declarações “mentirosas” e “revoltantes” que tentam “semear divisões” e criar uma “cortina de fumaça” para encobrir o “massacre em curso em Gaza”. “Uma Chancelaria dirigir-se dessa forma a um Chefe de Estado de um país amigo, o Presidente Lula, é algo insólito e revoltante”, acrescentou.

Além de Vieira, o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, quebrou o silêncio e respondeu às declarações feitas por Katz. “Em nenhum momento o presidente fez críticas ao povo judeu, tampouco negou o holocausto. Lula condena o massacre da população civil de Gaza promovido pelo governo de extrema-direita de Benjamin Netanyahu”, começou. “O Governo Netanyahu se nutre da guerra para se manter no poder. A maioria da população israelense rejeita a política extremista do governo e a comunidade internacional cobra o fim dos ataques em Gaza. Isolado, o governo de Israel adota prática da extrema-direita e aposta em Fake News para tentar se reafirmar interna e internacionalmente”, finalizou.