O presidente da Indonésia, Prabowo Subianto, realiza visita oficial a Brasília no dia 9 de julho, quando se reunirá com seu congênere brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva para discutirem a diversificação e ampliação do comércio entre os dois países.
Os dois chefes de Estado pretendem aprofundar o diálogo em áreas como segurança alimentar, energia renovável, bioenergia, defesa e educação, além de temas da agenda multilateral, como a proteção das florestas, a crise climática, a reforma da governança global e a busca pela paz no Oriente Médio.
Os dois líderes compartilham semelhanças em sua trajetória política. Ambos concorreram em quatro eleições para chegar ao mais alto cargo de sua nação. Lula começou como metalúrgico e líder sindical em São Paulo, perdeu a disputa para a Presidência da República em 1989, 1994 e 1998 e foi eleito em 2002.
Prabowo, ex-general das forças especiais e empresário, tentou garantir a indicação do Partido Golkar em 2004, mas foi derrotado. Em seguida, concorreu e perdeu para Joko Widodo em 2014 e 2019, antes de finalmente conquistar a presidência em 2024.
Lula e Prabowo se transformaram após as derrotas iniciais. Lula deixou de ser um ícone trabalhista radical para se tornar um construtor de coalizões pragmático, tranquilizando os mercados e mantendo-se fiel aos programas sociais. Prabowo adotou uma imagem mais inclusiva e aceitou um cargo ministerial para construir confiança. Por meio dessas evoluções, cada um conquistou um apoio mais amplo e o mandato para liderar.
Programas de Lula, como o Bolsa Família, tiraram milhões da pobreza. Prabowo, da mesma forma, cumpriu suas promessas de erradicar a pobreza e a fome, ao lançar um programa de alimentação gratuita para 82 milhões de beneficiários.
Brasil e Indonésia são hoje duas das principais lideranças do Sul Global, conjunto de países — principalmente da América Latina, África, Ásia e Oceania — que compartilham desafios históricos, econômicos e sociais comuns, como desigualdade, marginalização política e dependência econômica.
A Indonésia é a terceira maior democracia do mundo, o quarto país mais populoso, com 280 milhões de habitantes, e a maior economia da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), bloco com o qual o Brasil mantém diálogo setorial.
A cooperação entre Brasil e Indonésia é estratégica também na preparação para a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), em novembro, em Belém (PA), sobretudo na agenda de proteção florestal. Os dois países integram o grupo “Unidos por Nossas Florestas” e o Comitê Diretor do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF).
Em 2024, o comércio bilateral Brasil-Indonésia alcançou US$ 6,34 bilhões. As exportações brasileiras somaram US$ 4,46 bilhões, enquanto as importações foram de US$ 1,87 bilhão. A Indonésia ocupa o 16º lugar entre os destinos das exportações brasileiras e é o quinto maior destino para produtos do agronegócio.
As exportações brasileiras para a Indonésia concentram-se em farelo de soja, algodão e fumo. O Brasil importa do país asiático sobretudo fios de fibras têxteis e sintéticas, óleo de palmiste refinado, borracha natural e peças para veículos automotores e tratores.
Há também um fluxo relevante de investimentos recíprocos: empresas brasileiras atuam na área de mineração na Indonésia, enquanto investimentos indonésios no Brasil se destacam nos setores sucroalcooleiro, de papel e celulose, tabaco e têxteis.
Segundo a embaixadora Susan Kleebank, secretária de Ásia e Pacífico do Itamaraty, o governo brasileiro vê grande potencial de diversificação e ampliação do comércio com a Indonésia, sobretudo em bens como carne bovina e frango.
“Seria o momento oportuno para reiterar o interesse brasileiro em acessar o mercado indonésio para carne bovina, frango e aeronaves civis e militares”, afirma Susan Kleebank. “Buscamos avanços concretos nas áreas de acesso a mercados, segurança ambiental, energia renovável, biocombustíveis, defesa e educação.”
Além de estabelecer o primeiro contato entre os presidentes, a visita de Prabowo Subianto pretende reafirmar a importância da Indonésia como parceira estratégica e sinalizar a possibilidade de uma futura visita de Lula ao país asiático. A expectativa é de que o presidente brasileiro participe da 47ª Cúpula da Asean, na Malásia, em outubro.
Atualmente, estão em vigor memorandos de entendimento nas áreas de agricultura, bancos, educação, energia e mineração, além de erradicação da pobreza e promoção de comércio e investimento.
Durante o discurso de abertura da 17ª Cúpula do Brics, na manhã de domingo, 6 de julho, Lula fez um agradecimento especial a Prabowo Subianto, por sua primeira participação de uma cúpula do bloco como membro pleno.
Além dos dois países, o Brics é composto por Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã. O bloco serve como foro de articulação político-diplomática de países do Sul Global e de cooperação nas mais diversas áreas.