O Brasil mobilizou neste domingo (25) dois aviões Hércules C-130 em uma vasta operação militar para apagar os incêndios que devoram partes da Amazônia, enquanto novos protestos estavam programados contra o presidente Jair Bolsonaro por sua gestão da situação.

Uma espessa fumaça cobria a cidade de Porto Velho, no estado de Rondônia (norte), onde o Ministério da Defesa disse que os aviões começaram a derramar milhares de litros de água sobre as chamas.

Amplas áreas na região, que faz fronteira com a Bolívia, foram arrasadas pelas chamas, que causaram uma densa fumaça.

Especialistas dizem que o aumento do desmatamento durante a estação seca para criar terras aráveis ou pastagens agravou o problema este ano.

“Todos os anos piora, este ano a fumaça tem sido muito séria”, disse à AFP Deliana Amorim, de 46 anos, em Porto Velho.

Pelo menos sete estados dos nove que compõem a Amazônia Legal brasileira, incluindo Rondônia, solicitaram ao governo federal o envio de tropas, e 43.000 soldados estão disponíveis para agir para apagar os incêndios.

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Dezenas de bombeiros também se dirigiam para Porto Velho para o combate às chamas.

– Indignação mundial –

Os incêndios causaram uma onda de indignação mundial e são motivo de preocupação na cúpula do G7 em Biarritz, na França.

Os líderes das potências mundiais reunidas na cúpula concordaram em ajudar os países afetados pelas chamas “o mais rápido possível”, anunciou o presidente francês, Emmanuel Macron.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que participam da cúpula do G7, também ofereceram assistência.

A inclusão da crise na agenda da cúpula, que acontece sem a participação dos países da região, indignou Bolsonaro, que denunciou uma “mentalidade colonialista”.

No entanto, seu ministro da Defesa, Fernando Azevedo, disse no sábado que “qualquer ajuda é bem-vinda”.

Por sua vez, o presidente boliviano, Evo Morales, anunciou neste domingo sua disposição de receber ajuda internacional para combater os incêndios florestais na Chiquitanía, na região sudeste da Bolívia, na fronteira com o Brasil, e comunicou sua decisão de suspender sua campanha eleitoral pelo período de emergência.

O papa Francisco também expressou sua preocupação com os incêndios que devastam a floresta amazônica, que ele descreveu como “pulmão vital para o nosso planeta”.

Embora 60% da Amazônia esteja no Brasil, a vasta floresta também cobre partes de sete outros países: Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, além da Guiana Francesa, um departamento ultramarino de França.


Até o momento, este ano foram registrados 78.383 incêndios florestais no Brasil, os piores dados para esse período desde 2013.

A maioria dos incêndios ocorre na bacia do rio Amazonas. No total, 1.663 incêndios foram declarados no Brasil entre quinta e sexta-feira, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Manifestantes convocaram novos protestos neste domingo em cidades brasileiras.

– Acordo comercial em risco –

Essa crise ambiental também ameaça o acordo de livre comércio alcançado em junho entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, cujas negociações levaram 20 anos, mas ainda precisam ser validadas pelos Estados-membros do bloco europeu.

O presidente do Conselho da UE, Donald Tusk, garantiu no sábado a repórteres no G7 que era difícil imaginar que os países europeus ratificassem um pacto comercial com o bloco do Mercosul enquanto o Brasil falhar em impedir os incêndios.

Neste domingo, o ministro das Relações Exteriores de Luxemburgo, Jean Asselborn, disse que seu país deseja congelar sua participação no acordo devido a suas dúvidas sobre a disposição do Brasil a respeitar o acordo de Paris sobre o clima.

Sob crescente pressão, Bolsonaro prometeu na sexta-feira “tolerância zero” às atividades criminosas na Amazônia e prometeu ações fortes para controlar os incêndios.

Seu ministro da Justiça, Sergio Moro, também deu sinal verde para mobilizar as forças de segurança para combater o desmatamento ilegal na região.


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