O governo convocou nesta segunda-feira (27) o encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos para pedir explicações sobre o que chamou de “tratamento degradante” aplicado às pessoas deportadas que chegaram na última sexta-feira ao país, informou uma fonte do governo à AFP.
O máximo representante de Washington no Brasil, Gabriel Escobar, foi convocado dois dias após o Itamaraty reclamar do “tratamento degradante” recebido por 88 brasileiros durante a viagem de retorno ao país.
Os repatriados estavam nos Estados Unidos em situação irregular.
Não vazaram detalhes sobre o encontro entre a secretária de Comunidades Brasileiras no Exterior e Assuntos Consulares e Jurídicos do Itamaraty, Márcia Loureiro, e Escobar, que foi convocado devido à ausência de um embaixador, que ainda não foi designado pela gestão Trump.
O primeiro grupo de brasileiros deportados do segundo mandato de Trump chegou em um avião militar americano na noite de sexta-feira a Manaus, capital do Amazonas.
Muitos deles contaram à AFP que não receberam água, foram algemados nas mãos e nos pés, e impedidos de utilizar o banheiro durante o trajeto.
Também denunciaram um calor insuportável, que chegou a causar alguns desmaios entre os passageiros.
A ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, disse a jornalistas que também viajaram na aeronave crianças com deficiência, “que passaram por situações muito graves”.
A convocação ao diplomata americano veio após uma reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o chanceler Mauro Vieira no Palácio do Planalto.
Após tomar posse em 20 de janeiro, Trump assinou uma série de decretos com medidas contra a imigração irregular, entre elas, batidas e deportações em massa, bem como o envio de tropas à fronteira com o México, segundo a Casa Branca.
O episódio representa o primeiro atrito entre os governos do novo presidente republicano e de Lula. Os voos trazendo deportados chegam ao Brasil desde 2017 por “um entendimento bilateral”, segundo uma fonte do governo brasileiro.
Após o ocorrido no Brasil, o presidente colombiano Gustavo Petro tentou impedir a entrada de aviões militares americanos com imigrantes, mas acabou aceitando a transportar os deportados em aeronaves colombianas, depois que Trump ameaçou com fortes sanções econômicas.