O general da reserva Walter Braga Netto e o tenente-coronel Mauro Cid estão frente a frente na manhã desta terça-feira, 24, na sala de audiências do STF (Supremo Tribunal Federal), para uma acareação.
Braga Netto e Cid são réus por participação em uma suposta tentativa de golpe de Estado para manter Jair Bolsonaro (PL) no poder após a eleição presidencial de 2022, vencida por Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Preso preventivamente desde dezembro, Braga Netto foi ministro da Defesa, da Casa Civil e candidato a vice na chapa do ex-presidente, que teve o tenente-coronel como seu ajudante de ordens. Acusados de cinco crimes — como Bolsonaro —, ambos poderão ser condenados a até 43 anos de cadeia.
Torres x Freire Gomes
Após a primeira acareação, o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Anderson Torres, que também é réu pela trama golpista, e o ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes, testemunha no processo, estarão frente a frente às 11h. Torres se contrapõe ao relato do militar, que afirmou que o réu teria participado de reuniões para discutir medidas de exceção.
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O que é uma acareação
A acareação é um recurso previsto no Código de Processo Penal, em que réus ou testemunhas de um processo pedem para confrontar seus depoimentos com os de corréus ou outras testemunhas para sanar divergências. Frente a frente, os acareados são questionados novamente e têm a possibilidade de esclarecer os pontos de distância.
O pedido de acareação veio da defesa de Braga Netto, que está preso preventivamente desde dezembro de 2024. Cid, por sua vez, é autor da delação que inaugurou as investigações da Polícia Federal. A partir dos eventos relatados pelo tenente-coronel, policiais realizaram buscas, coletaram provas e ouviram outros envolvidos na suposta trama golpista para embasar o relatório enviado à PGR (Procuradoria-Geral da República) que sustenta o processo.
As divergências na mesa
A defesa de Braga Netto quer esclarecimentos sobre a implicação de seu cliente no “Punhal Verde e Amarelo”. Conforme a delação de Cid, o general foi o anfitrião de uma reunião, em novembro de 2022, em que discutiu com os chamados “kids pretos” (militares com formação em Forças Especiais do Exército) um plano para executar Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e Moraes e, assim, impedir a transição de poder.
O tenente-coronel relatou ainda ter recebido dinheiro do ex-ministro em uma sacola de vinho para financiar acampamentos montados em frente a quartéis do Exército que reuniam manifestantes contrários ao resultado das urnas. De acordo com as investigações, essas mobilizações —- incluindo a invasão às sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023 — eram parcialmente bancadas pelos acusados de golpe, que consideravam necessária a demonstração de apoio popular à ruptura institucional.
Em conversa gravada com um grupo de apoiadores mais radicais de Bolsonaro, na saída do Palácio da Alvorada, Braga Netto chegou a pedir-lhes que “não perdessem a fé”, em recado enigmático amplamente utilizado para manter as mobilizações nos acampamentos. Mensagens obtidas pela Polícia Federal mostram ainda que o ex-ministro pressionou comandantes militares a aderirem ao plano golpista e chegou a chamar Freire Gomes, que recusou a investida, de “cagão”.
Interrogado por Moraes, Braga Netto confirmou ter se reunido com os “kids pretos” na data informada por Cid, mas negou o caráter golpista e qualquer menção ao “Punhal Verde e Amarelo” no encontro. Negou também a entrega de qualquer quantia ao tenente-coronel. “Eu não tinha esse dinheiro”, disse.
Conforme autorizado por Moraes, os dois acusados serão questionados sobre esses episódios e as divergências apresentadas nos relatos anteriores na acareação desta terça. Ao contrário do que ocorreu na fase de interrogatórios, o confronto entre as versões não será televisionado.