Marcos Correa

Aparentemente o Centrão perdeu uma importante queda de braço com o Palácio do Planalto. Apesar da insistência por um quadro político para a vice-presidência, Bolsonaro quer continuar com um militar na função e escolheu o general Walter Souza Braga Netto, que deve deixar o cargo de ministro da Defesa até o fim de março. O militar não tem votos e menos ainda carisma, mas pode servir como um pseudopolítico que não fará sombra ao presidente. Não é de hoje que se comenta sobre a mania de perseguição do ex-capitão. Ele ficou boa parte do mandato em litígio com o seu vice, o general Hamilton Mourão, que tomou gosto pela vida pública e anunciou sua pré-candidatura ao Senado pelo Rio Grande do Sul. Mesmo sendo discreto, Mourão foi desautorizado várias vezes e colocado à margem do mandato.

Além do respaldo militar, Bolsonaro precisa ter alguém que não lhe cause medo de um impeachment. Em vários momentos o parlamento balançou, mas a desarticulação de um Mourão foi suficiente para dar fôlego ao presidente. Um vice mais astuto negociaria uma solução diferente. O mandatário já esteve do outro lado e sabe do perigo. No fundo, ele ainda teme que Braga Netto possa não ser tão inofensivo, mas nunca ao ponto de cobiçar a sua cadeira.

O plano arquitetado pelo grupo político (PL, PP e Republicanos) era ter uma mulher, com melhor trânsito entre os parlamentares e que aproximasse Bolsonaro de uma elite econômica a qual o presidente não tem credibilidade. A favorita era a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que será candidata ao Senado por Mato Grosso do Sul.

Vaidade do capitão

O natural para um presidente seria ter um vice que agregasse votos, um governador ou líder partidário influente. Exatamente o que Bolsonaro evita. Não está em jogo apenas a vitória nas urnas. A vaidade do mandatário em ver um militar de patente superior sendo seu subalterno, conta muito. Não está bem resolvida a questão da sua saída do Exército. Braga Netto, por sua vez, demonstrou lealdade em todo o mandato é um prêmio para quem se submeteu cegamente ao presidente. Quando houve os atos contra a democracia no Sete de Setembro, Braga Netto estava ao lado de Bolsonaro sobrevoando os eventos em Brasília e causando desconforto no alto comando militar. A contabilidade política, no entanto, é frágil. Bolsonaro não está em condições de desprezar políticos que possam atrair votos e palanques nos estados. Sem somar nenhum apoio eleitoral, ser vice não faz muito sentido.

Perfil do general

2018 Braga Netto liderou a fracassada intervenção militar no Rio de Janeiro (Crédito:FERNANDO SOUTELLO)

Braga Netto teve sua primeira exposição antes mesmo de ser ministro de Bolsonaro. Ele liderou a intervenção militar no estado do Rio de Janeiro, em 2018, depois do decreto do presidente Michel Temer. Experiente e durão, o general é nascido em Belo Horizonte e, possivelmente, vai tentar falar com o povo mineiro que tem o segundo maior colégio eleitoral. A carreira do militar é exemplar, desde 1975 no Exército, ele representou o País na Polônia, Estados Unidos e Canadá. Braga Netto entrou no governo Bolsonaro como chefe da Casa Civil e está no Ministério da Defesa. Aos 66 anos, ele foi um dos entusiastas da aproximação com o Centrão e é visto como um conciliador.