O ator e diretor americano Bradley Cooper conseguiu, valendo-se da grande semelhança física, ressuscitar o compositor Leonard Bernstein em sua biografia cinematográfica “Maestro”, apresentada neste sábado (2) na mostra competitiva do Festival de Cinema de Veneza.

Multipremiado em 2019 por “Nasce Uma Estrela”, Cooper tem conseguido manter um equilíbrio incomum em Hollywood entre sua carreira de ator de sucessos de bilheteria (“Sniper Americano”, “Se Beber Não Case!”) e obras autorais como “Maestro”, co-produzida com Martin Scorsese e Steven Spielberg.

Já o cineasta franco-polonês Roman Polanski, de 90 anos, voltou a Veneza com “The Palace”, um vaudevile filmado em um hotel suíço, com antigas glórias da sétima arte.

Nem Cooper, nem Polanski estiveram presentes no Lido.

A ausência do diretor americano se deveu à greve dos atores em Hollywood, enquanto Polanski, que mora na Suíça, continua ameaçado de extradição judicial para os Estados Unidos pelo estupro de uma menor em 1977.

– Um gênio complicado –

Autor de sucessos como “West Side Story”, Bernstein foi a grande esperança americana para entrar no Olimpo da música clássica, mas também era um gênio com uma vida amorosa complicada.

Embora fosse casado com a atriz Felicia Montealegre, Bernstein teve relacionamentos com homens ao longo da vida, o que colocou em risco sua vida familiar.

O filme aborda diretamente essas relações e as tensões, não apenas com sua esposa (interpretada por Carey Mulligan), mas com seus filhos, que nunca souberam a verdade, revelou a filha mais velha de Bernstein, Jamie, em entrevista coletiva no Lido.

“Não sei por que meu pai negou tudo”, explicou Jamie Bernstein, que, em 2018, publicou um livro de memórias que inspirou em parte Bradley Cooper.

“Foi um processo longo para todos nós, que nos testou e confundiu”, admitiu.

A filha do compositor ficou entusiasmada com o filme.

“Nunca pensamos que Bradley se esforçaria tanto para manter a autenticidade” do personagem, explicou.

“Na realidade, é uma história de amor, a dos nossos pais”, acrescentou.

– O hotel dos problemas –

Polanski não precisou sair da Suíça para gravar “The Palace”, filmado na estação alpina de Gstaad, com Mickey Rourke, Fanny Ardant e John Cleese (do grupo britânico Monty Python).

Em Veneza, o filme foi apresentado fora da competição.

Polanski mora na Europa há mais de quatro décadas, depois de desobedecer a uma intimação da justiça dos EUA.

O cineasta multipremiado, ganhador do Oscar com “O Pianista” e “O Bebê de Rosemary”, vive situação semelhante à de Woody Allen, que também estreia em Veneza um filme fora da competição, mas tampouco estará presente no Lido para apresentá-lo.

“Foi muito difícil fazer este filme”, explicou o produtor Luca Barbareschi, em entrevista coletiva.

Polanski não pôde contar com financiamento francês, nem com o das plataformas americanas, que mantêm em seu repertório os filmes antigos do cineasta, criticou Barbareschi.

Esses longas-metragens, clássicos do cinema, “geram milhões”, declarou ele. “Por que eles não produzem o novo filme?”, questionou o produtor.

A vítima do estupro perdoou Polanski publicamente há muitos anos, mas as autoridades judiciais mantêm o pedido de extradição contra o cineasta.

Dono de uma carreira prolífica, Polanski cultivou com sucesso a comédia no passado, com filmes como “O Jovem Frankenstein”.

“The Palace” se apresenta como um filme de enredos múltiplos na véspera de Ano Novo de 2000, com assassinos russos, bilionários excêntricos e mulheres obcecadas por cirurgia plástica, que chegam a um hotel nas montanhas com uma variedade de caprichos e obsessões.

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