O Brasil continua esculhambado. O povo dos abraços está triste. Lhe falta um herói que o inspire e devolva o ritmo da alegria. Enquanto isso não acontecer o coração do grande povo brasileiro vai continuar sem graça. Mas quem sabe as coisas começam a mudar… As razões para o desencanto até eram fáceis de compreender. Primeiro foi a surpresa. Depois de uma década de crescimento na qual o elevador social realmente funcionou — muitos pobres viraram classe média e muita classe média virou “burguesia” — ninguém se preparou para o abrandamento da economia e tudo ficou péssimo quando a crise aterrissou no JK. Pobre virar “rico” é difícil, mas quando “rico” vira pobre a coisa fica impossível. A segunda foi a bagunça. Nos anos do ascensor funcionando, o Brasil se entregou de alma e coração — com reais e corrupção — à festa.

Ninguém se preocupou com os problemas sérios que havia para resolver e todos se esconderam na copa do Mundo, na Olimpíada e nas exportações sem valor acrescentado de soja, café, petróleo e algodão — suas eternas fragilidades estruturais. Nesse meio de campo tudo ficou pela metade. A revisão das leis do trabalho — que não deu; o financiamento da previdência social — que já era, a modernização da indústria — que dançou. Até a revisão constitucional, indispensável para mudar o Estado e as coisas, ficou prisioneira do “afeto” pelo poder de uma classe política mais fraca e frágil de sempre. Na relação com o exterior a truculenta família Bolsonaro, fazendo as delícias de Trump, diminui ainda mais a nossa imagem e competitividade internacionais. A terceira razão é a Incerteza.

Depois de uma década de crescimento na qual o elevador social funcionou, muitos pobres viraram classe média e muita classe média virou “burguesia”

Surpresos e bagunçados os brasileiros olham o futuro com medo. No Brasil até o passado é incerto, não é? Mesmo sendo a maior potência económica e militar regional, um dos maiores produtores mundiais de alimentos e um dos países com maior potencial de crescimento, a economia trava. No meio daquele terremoto, a “Lava Jato” que varreu as elites política e empresarial ninguém decente e com a reputação intacta se apresentou para o lugar mais alto. A elite cultural e econômica não produziu um líder capaz e o pais se fraturou ao meio entre a ignorância e o evangelho, os Estados e o Distrito Federal, o poder e a mídia. Depois chegou a pandemia…. As eleições locais de 2020 iniciam novo ciclo político. Mas sem uma nova “estrela” que o guie, dificilmente o Brasil vai mudar. Sem sangue jovem na política, mesmo que o Mundo inteiro melhore, o País continuará refém da sua própria força. Como nunca, o Brasil precisa de um herói. Boulos, será você?