Em mais de cinco meses de quarentena, a ansiedade levou grande parte da população mundial a comer mais do que estava acostumada. No Brasil, estima-se que seis em cada dez brasileiros aumentaram de peso, com ganho médio de peso de 2,8 quilos. A beleza dos gordinhos é o tema central da obra de Fernando Botero, pintor e escultor colombiano que nasceu em Medelim em 1932 e começou sua trajetória como ilustrador aos 16 anos.

Seus primeiros desenhos foram de touros, paisagens e naturezas mortas. Aos 19 anos, teve vontade de ser pintor, sua mãe deixou e ele mergulhou de cabeça nesse sonho, já fazendo sua primeira exposição. Em Madri, aprendeu a técnica de afrescos e aprofundou seu conhecimento de arte, influenciado pelas pinturas renascentistas de Florença. O trabalho e os murais mexicanos de Diego Rivera também influenciaram suas preferências artísticas.

Sua primeira obra ‘boteriana’ foi um bandolim que chamava atenção pela amplitude e generosidade do traço, além as sutilezas dos detalhes. A partir desse primeiro esboço, começou a se aprimorar nos volumes. Levou quinze anos para conseguir criar seu estilo e fazer uma obra ‘Botero’ do começo ao fim. Sempre com muita humildade, diz que a criação depende de muito trabalho e, por isso, leva muito tempo para ser desenvolvida. Conseguiu ter um estilo é marcante, que possibilita a rápida identificação de suas pinturas e esculturas que, inclusive, criticam à ganância do ser humano.

Atualmente, ele é o artista que mais expõe no mundo (inclusive na China), fazendo com que seu tempo tenha que ser dividido entre Colômbia, Europa e Estados Unidos. As viagens internacionais para acompanhar suas mostras devem retomar após o período de Covid-19. Seus personagens volumosos são inconfundíveis. Suas figuras gordas, avantajadas sempre aparecem com a boca fechada, em uma releitura instigante de beleza inspirada no renascimento (leia coluna de mestres renascentistas como Botticelli). Os personagens roliços fazem parte da identidade estética do artista colombiano que já pintou de tudo um pouco: natureza morta, cenas com bailarinas, cavalos e muitas releituras de obras famosas.

 

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Vários parques públicos e museus internacionais possuem suas obras, com destaque para o Museu de Antioquia, que visa despertar a arte em jovens. Botero doou 123 obras para o acervo do Museu Botero, localizado no centro histórico e cultural da cidade de Bogotá. Dentre os destaques da coleção, encontra-se “Mona Lisa” (1963), uma releitura ‘boteriana’ bem humorada e que foi inspirada na obra ícone de Leonardo da Vinci. A interpretação de Botero é muito interessante. Ele abre uma exceção ao seu estilo e reproduz o sorriso enigmático da Gioconda e mantém a posição das mãos do quadro original. Entretanto, acrescenta contornos generosos ao seu corpo, ampliando sua importância, e insere uma nova paisagem montanhosa adaptada para a realidade colombiana (notem que há um vulcão).

Sua obra satiriza personalidades, políticos, militares, religiosos, músicos e até a realeza, mostrando seu ativismo político e sua habilidade de observar os movimentos da sociedade. Explora também em seu trabalho muitos temas áridos, como a série de pinturas inspirada nas torturas da prisão de Abu Ghraib (2005), que demandaram um ano de produção para retratar as atrocidades cometidas por soldados americanos contra os prisioneiros de guerra iraquianos. “A Morte de Pablo Escobar” eterniza em uma tela de grandes proporções o momento e o local no qual o chefe do tráfico de drogas colombiano foi assassinado pela polícia ao reagir à prisão. A arte também serve para isso: despertar novos olhares da sociedade e manter viva a memória das pessoas para que episódios violentos não voltem a repetir.

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