Para o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, aos seres humanos se aplica, sem restrições éticas ou morais, o frio conceito que os ingleses denominam “naturalidade da dinâmica mercantil” – “business as usual”. Disso decorre que Johnson não diferencia muito os tempos atuais da época da escravatura de africanos. Em 1833, o Parlamento inglês a extinguiu no país. Nos últimos dias, o premiê ressuscitou o tráfico de pessoas: quem entrar ilegalmente no Reino Unido com a finalidade de pedir asilo, vindo do continente europeu pelo Canal da Mancha, será deportado para Ruanda. Na terça-feira 19 subiram de tom os protestos contra a assinatura do acordo que ele promoveu com a nação da África, no final da semana passada: a Inglaterra dará 120 milhões de libras (cerca de R$ 738 milhões) ao governo ruandês, e, em troca, o presidente do país, Paul Kagame (vinte e dois anos no poder) acolherá os imigrantes que Johnson lhe enviará. “Esse plano é impraticável, é antiético, é extorsivo”, declarou a ministra do gabinete paralelo da oposição Trabalhista inglesa, Yvette Cooper. Já o Conselho de Refugiados foi ainda mais direto ao ponto: o primeiro-ministro e muitos de seus correligionários do Partido Conservador “estão tratando os refugiados como carga humana”. Na verdade, Johnson sabe que provavelmente será forçado a recuar nos próximos dias, mas o indesculpável gesto de xenofobia estará registrado para sempre na história. O seu objetivo maior é desviar a atenção das investigações sobre as festas que promoveu em sua residência e também em repartições públicas durante o período em que a Inglaterra estava, por força de lei, sob rígido isolamento social devido à pandemia.

Extorsão

Leon Neal

“O primeiro-ministro assinou com Ruanda um acordo que é impraticável, antiético e extorsivo Yvette Cooper”, ministra do gabinete paralelo Trabalhista

Acusado de corrupção

Simon Wohlfahrt

Há vinte e dois anos no poder, o presidente de Ruanda, Paul Kagame, acumula denúncias de assassinatos e corrupção. Nada é investigado. Para analistas internacionais, não há dúvidas sobre o destino dos cento e vinte milhões de libras que receberá do Reino Unido: irão para o seu próprio bolso.]

COMPORTAMENTO
Brasileiros são alvo de assédio em tradicionais universidades de Portugal

UNIVERSIDADE DE LISBOA Tradição manchada: ensino excelente com má conduta de membros do corpo docente
UNIVERSIDADE DO PORTO Crime grave: um professor teria dito que “mulheres brasileiras são mercadorias” (Crédito:Divulgação)

Os responsáveis pela tradicional Faculdade de Direito de Lisboa tomaram uma excelente providência: abriram um canal para que estudantes possam relatar aos diretores eventuais casos de assédio por integrantes do corpo docente. Na verdade, a expressão “eventuais” está longe de ser a mais adequada. Motivo: a má conduta está mesmo acontecendo. Em onze dias de funcionamento foram registradas uma infinidade de queixas de assédio sexual e assédio moral contra trinta e um professores. A isso, somam-se reclamações de práticas sexistas, xenofobia, racismo e homofobia – os alvos são, principalmente, brasileiras e brasileiros. Do relatório, consta: “há problemas sérios e reiterados de assédio sexual e moral, perpetrados por docentes”. A maioria dos casos ocorreu no interior da faculdade, mas foram relatados, ainda, assédios online.

Episódios semelhantes vêm acontecendo na Universidade do Porto. Um professor é acusado de fazer comentários preconceituosos contra alunas brasileiras. Ele teria dito: “as mulheres brasileiras são mercadorias”. O professor está afastado.

JUSTIÇA
Tribunal permite a extradição de Assange para os EUA

ALTA TENSÃO Julian Assange: a ministra Priti Patel ditará o seu destino (Crédito:Henry Nicholls )

Está nas mãos da ministra do Interior do Reino Unido, Priti Patel, o destino de Julian Assange, 50 anos de idade, fundador do WiKileaKs — organização transnacional sem fins lucrativos, com sede na Suécia, que publica em sua página informações políticas secretas de governos de diversos países. A Justiça britânica já autorizou a extradição de Assange para os EUA. Se a ministra concordar com a determinação, dando a palavra final, ele responderá em território americano pelo vazamento, em 2010, de documentos sigilosos sobre a conduta das tropas dos EUA no Iraque e no Afeganistão. Caso seja condenado, receberá sentença de cerca de duzentos anos de prisão.