O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, sofreu nesta quinta-feira a sétima derrota consecutiva no Parlamento, onde os ânimos estão agitados com a proximidade de um Brexit incerto que provoca uma debate cada vez mais tenso.

Por 306 votos contra 289, os deputados rejeitaram a proposta conservadora de um breve recesso na próxima semana, de segunda a quarta-feira, para permitir que os membros do partido governamental participem do congresso anual da formação.

O Parlamento retomou suas atividades na quarta-feira, depois que a justiça declarou “ilegal” a decisão de Johnson de suspender as sessões durante cinco semanas, em pleno debate sobre o Brexit.

Neste contexto, o primeiro-ministro britânico enfrentava uma avalanche de críticas por sua oratória, considerada incendiária e perigosa no acalorado debate do Brexit, que divide a sociedade britânica.

“Ontem (…) palavras raivosas foram pronunciadas, a atmosfera era tóxica”, lamentou o presidente da Câmara dos Comuns, John Bercow, que chamou os deputados a “se tratarem como oponentes e não como inimigos”.

Johnson partiu para ofensiva na quarta-feira, quando os deputados voltaram ao trabalho, em uma sessão marcada por violentos confrontos verbais.

Ele se recusou a se desculpar, criticou repetidamente os legisladores por aprovar uma “lei de rendição” que o forçaria a solicitar um novo adiamento do Brexit e disse que “não trairia” o mandato do povo de deixar a União Europeia.

O tema divide profundamente o país desde o referendo de 2016 – em que o Brexit venceu com 52% dos votos – e o ambiente está cada vez mais envenenado pelo caos político e os sucessivos adiamentos da saída da UE, inicialmente prevista para março.

Uma deputada anti-Brexit, a trabalhista Jo Cox, foi assassinada por um homem de extrema-direita durante a campanha pelo referendo, provocando grande comoção em todo o país.

Este ano, a segurança teve que ser aumentada nos últimos meses para proteger vários deputados que relataram ter recebido ameaças de morte por suas posições relativas ao Brexit.

“Muitos de nós sofremos ameaças de morte e abusos todos os dias”, disse a Johnson a deputada trabalhista Paula Sherriff, pedindo ao primeiro-ministro que “modere sua lingagem”.

“Devo dizer que nunca ouvi tamanha falsidade na minha vida”, respondeu Johnson, considerando que a melhor maneira de honrar Cox “seria, acredito, realizar o Brexit”, o que causou uma onda de indignação.

“Me deixa doente que o nome de Jo seja usado dessa maneira”, tuitou o marido de Jo Cox, Brendan, que em declarações à rádio BBC criticou a linguagem “irresponsável” usada pelos políticos de ambos os lados, acusando-os de exacerbar as divisões sociais sobre a saída britânica da UE.

O líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, acusou Johnson de usar uma linguagem “indistinguível da linguagem da extrema-direita”.

E até alguns membros do Partido Conservador governista pareciam incomodados: “Em um momento de sentimentos contraditórios, todos devemos estar cientes do impacto do que dizemos sobre aqueles que nos observam”, disse o ministro da Cultura e Mídia, Nicky Morgan.

“A linguagem que está usando causa muitos danos à nossa democracia”, considerou, por sua vez, o neto de Winston Churchill, Nicholas Soames, expulso do Partido Conservador por se rebelar contra Johnson.

Mais tarde, foi a vez da irmã de Boris Johnson se unir às críticas. “Meu irmão usa palavras como ‘rendição’ e ‘capitulação’, como se as pessoas que estão no caminho da sagrada vontade do povo, como definido pelos 17,4 milhões de votos em 2016, tivessem que ser enforcadas, afogadas, esquartejadas e cobertas por penas”, disse Rachel Johnson ao canal Sky News.

“Eu penso que tudo isto é muito repreensível”, completou a jornalista, contrária ao Brexit.