Há um mês, Boris Johnson abordava a crise do coronavírus de maneira descontraída e afirmava que continuava “apertando a mão de todos”. Desde segunda-feira (6), o primeiro-ministro britânico está hospitalizado em terapia intensiva em decorrência da doença.

Em uma coletiva de imprensa em 3 de março, o líder conservador, de 55 anos, gabou-se de “apertar a mão de todos” depois de visitar um hospital onde 19 pacientes estavam sendo tratados por COVID-19. E garantiu que pretendia continuar fazendo isso.

Dois dias depois, o Reino Unido anunciou sua primeira morte, devido à doença que surgiu na China.

Em 12 de março, Johnson chamou a pandemia de “a pior crise de saúde pública em uma geração” e alertou que muitos britânicos perderiam entes queridos.

Ainda assim, a estratégia de seu governo continuava a divergir das medidas radicais adotadas por outros países da Europa, onde o confinamento já estava em vigor, e as escolas, fechadas.

Aos repórteres, Johnson repetia sua recomendação de lavar bem as mãos “durante o tempo necessário para cantar ‘Parabéns pra você’ duas vezes”.

Para aqueles com mais de 70 anos, considerados mais vulneráveis ao coronavírus, ele simplesmente desaconselhava ir a um cruzeiro.

Destinada a promover uma “imunidade coletiva”, essa estratégia gerou polêmica.

Diante das críticas crescentes, e especialmente após um alarmante estudo científico que anunciava 250.000 mortes se medidas de distanciamento social não fossem tomadas, o governo Johnson começou a mudar de rumo.

Em 16 de março, pediu à população que evitasse o contato social “não essencial”, assim como as viagens “desnecessárias”, promovendo o trabalho remoto.

A ordem para fechar escolas, bares, restaurantes, cinemas e academias veio apenas alguns dias depois, em 20 de março.

Em 23 de março, Johnson finalmente se dirigiu ao país pela televisão e ordenou solenemente um confinamento de três semanas. Ele e alguns de seus ministros continuaram, no entanto, participando de reuniões presenciais.

Quatro dias depois, Johnson pegou todos de surpresa quando anunciou que havia testado positivo para a COVID-19. Segundo o próprio premiê, seus sintomas eram “leves”. Apesar de se isolar em seu apartamento em Downing Street, continuou trabalhando por meio de videoconferências para presidir as reuniões ministeriais.

Parecia cansado e indisposto nas mensagens de vídeo que postava no Twitter para pedir aos britânicos que ficassem em casa.

Em 31 de março, tuitou uma foto da primeira reunião do conselho de ministros realizada inteiramente on-line.

E, na última quinta-feira, apareceu na porta de sua residência oficial para aplaudir os profissionais da saúde do país.

Perguntas sobre sua saúde e sobre sua capacidade de continuar cumprindo suas obrigações como primeiro-ministro se multiplicaram.

No sábado, sua noiva Carrie Symonds, de 32 anos, que está grávida e não está com ele em Downing Street, anunciou que estava se recuperando depois de passar uma semana na cama com os sintomas da doença.

Boris Johnson não teve tanta sorte. No domingo, logo após um raro discurso televisionado da rainha Elizabeth II para incentivar os britânicos a resistirem, o premiê foi hospitalizado “como medida de precaução”, devido a sintomas persistentes.

Vinte e quatro horas depois, foi transferido para a unidade de terapia intensiva de um hospital no centro de Londres, diante da degradação de sua condição.

De acordo com o ministro Michael Gove, Boris Johnson recebeu oxigênio, mas não usou um respirador.