Os 56 milhões de habitantes da Inglaterra voltarão ao confinamento domiciliar a partir da próxima quinta-feira e até 2 de dezembro, na tentativa de conter o avanço da pandemia do novo coronavírus, anunciou neste sábado (31) o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.

As medidas serão debatidas e votadas na quarta-feira pelo Parlamento.

“Temos que ser humildes diante da natureza”, afirmou Johnson, durante uma coletiva de imprensa, ao anunciar que todos os comércios não essenciais vão fechar e os ingleses não poderão sair de casa, exceto para questões essenciais, como comprar alimentos ou ir ao médico. Escolas e universidades, no entanto, vão continuar abertas.

“A menos que ajamos, poderíamos ver as mortes neste país alcançar os milhares por dia”, acrescentou, ao lado de seus principais conselheiros científico e médico, Patrick Vallance e Chris Whitty.

– Reagir tarde –

Muito criticado durante a primeira onda por ter reagido tarde e depois pelas graves consequências do confinamento para a economia britânica, Johnsn havia resistido a voltar a impor medidas em nível nacional.

Ele foi duramente atacado pela oposição trabalhista, quando se soube que havia recusado um confinamento curto de dois ou três semanas, preconizado em meados de setembro, por seus conselheiros científicos.

Mas o Reino Unido, o país mais afetado pela pandemia na Europa, com mais de 46.500 mortes confirmadas de covid-19, vente o forte impacto da segunda onda.

Neste sábado, superou o milhão de casos positivos: 1.011.660 contágios desde o começo do ano.

Neste contexto, o primeiro-ministro seguiu o exemplo de seus vizinhos mais próximos – França e Irlanda -, que já colocaram suas populações em ‘lockdown’.

Na sexta, seu chanceler e número dois do Executivo, Dominic Raab, havia insistido em manter uma política de restrições locais.

“Vamos fazer tudo o que pudermos de modo concentrado” nas zonas de maior contágio, disse à BBC. “Não vamos adotar uma abordagem única para todos”, que “seria pior”, insistiu.

– Repercussões econômicas “desastrosas” –

O norte do país, em torno de cidades como Liverpool e Manchester, já sob fortes restrições com fechamento de bares e a proibição de reunião com familiares e amigos com quem não se conviva.

Mas um estudo publicado na quinta-feira pelo Imperial College de Londres e a Ipsos Mori emitiu o alerta sobre a rápida propagação do vírus mais ao sul, que poderia rapidamente se encontrar no mesmo nível.

Assim, Johnson se viu pressionado por seus assessores a frear agora a disparada de contágios, com a esperança de poder permitir que as famílias se reúnam no Natal.

Estas medidas só afetam a Inglaterra porque cada um dos quatro países que formam o Reino Unido decide suas políticas sanitárias.

Os mais de três milhões de habitantes do país de Gales já voltaram ao confinamento há uma semana. A medida terá duração de 17 dias.

Enquanto a pressão aumentava por todo o lado para que Johnson fizesse o mesmo, também crescia a oposição por parte dos conservadores. “Não faça isso, Boris!”, estampou na quinta a primeira página do jornal conservador Daily Telegraph.

Em particular, teme-se as consequências para a economia, depois que o FMI antecipou esta semana uma queda de 10,4% do PIB britânico em 2020, pior do que se previa.