12/09/2020 - 8:23
O primeiro-ministro Boris Johnson defendeu neste sábado (12) a sua intenção de não cumprir parcialmente o acordo do Brexit ante a “ameaça” de que a União Europeia (UE) estabeleça um “bloqueio” alimentar na Irlanda do Norte, perigoso para a “paz e a unidade” do Reino Unido.
O governo britânico apresentou na quarta-feira um projeto de lei sobre o mercado interno no Parlamento que dá o poder ao Executivo britânico de tomar decisões unilaterais em questões comerciais na província da Irlanda do Norte.
O texto, que contradiz em parte o acordo que rege a saída do país da UE, complica as negociações que começaram em março sobre a futura relação entre o Reino Unido e a UE.
Em um texto publicado no jornal britânico The Daily Telegraph, Johnson explica que se viu obrigado a chegar ao extremo e admite que o projeto de lei representa uma violação do direito internacional.
Mas ele justifica sua decisão pelas “ameaças” dos europeus de “destruir a integridade econômica e territorial do Reino Unido por meio de uma interpretação extrema” do texto do Brexit, que, no entanto, foi “negociado de boa fé”.
“Dizem agora que se não aceitarmos as condições da UE, esta utilizará uma interpretação extrema do Protocolo da Irlanda do Norte para impor uma fronteira comercial completa”, disse Johnson.
De acordo com o chefe de Governo britânico, Bruxelas não apenas poderia impor tarifas de importação aos produtos que entram na província a partir do restante do país, como também poderia impor um “bloqueio” e impedir “o transporte de alimentos até a Irlanda do Norte”.
“Tal interpretação colocaria seriamente em perigo a paz e a estabilidade na província britânica”, marcada por três décadas de violência até a assinatura do acordo de paz da Sexta-Feira Santa em 1998, afirmou Johnson.
O primeiro-ministro pede aos deputados conservadores que apoiem seu projeto de lei, que será debatido no Parlamento na segunda-feira. Alguns deles, no entanto, já expressaram mal-estar com o fato de o país não cumprir seus compromissos.
“Não podemos deixar o poder teórico de dividir nosso país nas mãos de uma organização internacional”, destacou Johnson, antes de assegurar aos deputados que é “vital” aprovar o projeto de lei para “acabar com esta possibilidade”.