Na eleição extraordinária em North Shropshire, em dezembro, o Partido Conservador britânico perdeu uma vaga que ocupava no Parlamento há dois séculos. O Partido Liberal Democrata ficou com a cadeira do arquirrival. Eleita, Helen Morgan resumiu: “Nosso distrito falou em nome do povo britânico: Boris Johnson, a festa acabou”.

Desde dezembro, a situação do primeiro-ministro só piorou. A celeuma sobre verbas mal explicadas para o financiamento de reformas em Downing Street (residência oficial do premiê) evoluiu para escândalos de festas regadas a vinho nos jardins da casa, quando confraternizações estavam proibidas na fase mais dramática da pandemia.

Os próprios correligionários não engoliram as desculpas de Boris Johnson, de que “não sabia” de confraternizações com 100 pessoas no seu próprio quintal. Quem o acusou de mentir foi Dominic Cummings, seu ex-conselheiro. Cummings disse que alertou Boris de que seu secretário pessoal, Martin Reynolds, organizava o convescote, pedindo que as pessoas levassem as próprias bebidas. Segundo o ex-aliado, o primeiro-ministro ignorou e há testemunhas. Um vexame.

Figura controversa e midiática que chegou ao posto de premiê durante a conturbada aprovação do Brexit, do qual foi um dos arquitetos, Boris nunca esteve tão perto de cair. Há mecanismos no parlamentarismo britânico para isso. E o golpe pode vir dos próprios conservadores. Deputados do seu partido debatem um possível voto de desconfiança, que pode ir a plenário bastando reunir 54 nomes de um total de 360 parlamentares.

Mas a queda também pode ser retardada até as eleições locais de maio, segundo Carolina Pavese, doutora em Relações Internacionais pela London School of Economics. “Ninguém quer bater de frente para não se comprometer. Podem deixá-lo em banho-maria, esperando que o Partido Conservador tenha assegurada sua base nas eleições, para só então tomarem uma atitude”, avalia. País acostumado aos escândalos, ao mesmo tempo em que é obcecado pela disciplina coletiva, o Reino Unido parece preparar uma saída na melhor tradição britânica para o premiê bufão.