Todos nos lembramos o que aconteceu no Iraque e aos iraquianos quando as estátuas de Saddam Hussein foram arrancadas, derrubadas e xingadas em direto na CNN.

A liberdade prometida nunca chegou e ao ditador não sucedeu nenhuma destruição massiva. “Apenas” uma longa guerra civil e a nova ordem mundial que nos trouxe a Al-Qaeda e o Estado Islâmico e o terrorismo internacional. Todos, comandados pelos militares sem emprego do antigo exército de elite de Hussein a quem os norte americanos tiraram sustento e nobreza.

Sobre o que a realmente aconteceu no Iraque haverá sempre muitas dúvidas e poucas certezas, mas é indesmentível que derrubar estátuas não melhorou a vida de um único cidadão daquele país do médio oriente. Muito pelo contrário.

Esta semana, na sequência da morte trágica do estadunidense George Floyd, o mundo ainda em pandemia, com a fúria própria de quem ficou fechado em casa muitas semanas, desconfinou numa urgência global antirracismo onde os ativistas, mais ou menos irredutíveis e infiltrados, apontaram indignações, insultos, piche, latas de tinta spray e gruas bob-cat às estátuas de muitas personalidades históricas.

Nos EUA os líderes da confederação, nos estados do Sul, onde as feridas da guerra da secessão se voltam a abrir 150 anos depois, exigem que estátuas, nomes de ruas, e até o nome de algumas bases militares, batizadas em honra de generais confederados, fossem arrancadas.

A Europa também não escapa.  No centro de Londres, em Westminster, a estátua mais importante do antigo primeiro-ministro Winston Churchill — herói da liberdade na segunda guerra mundial — foi vandalizada; e em Portugal nem a estátua do Padre António Vieira escapou às latas de tinta e acusações racistas.

Aqui no Brasil são as estátuas do Borba Gato e do Tiradentes, heróis nacionais e personalidades incontornáveis da nossa história e independência a ser demandadas por racismo esclavagista.

Também “escravos”, mas agora do WhatsApp, do Facebook e do Twitter, logo alguns políticos se apressaram a garantir que vão rever a conformidade dos monumentos, admitindo mesmo retirá-los dos seus lugares.

A história é um processo continuo que se faz aprendendo com os erros e lembrando-os sempre para que não se repitam. Derrubar as estátuas do passado apenas vai servir para aumentar, no futuro, o número de ignorantes e de radicais. Indo por esse caminho um desses dias ainda derrubamos a Estátua da Liberdade.

Como falava o Millôr, é bom não esquecer que a vida também perde a cabeça