Forças israelenses prosseguiam com os bombardeios nesta terça-feira (26) na Faixa de Gaza, apesar da aprovação pelo Conselho de Segurança da ONU, na segunda-feira, de uma resolução que pede um “cessar-fogo imediato” na guerra entre Israel e Hamas no território palestino, devastada e à beira da fome.

O Ministério da Saúde do Hamas afirmou que 70 pessoas morreram durante a noite, 13 delas em ataques aéreos perto de Rafah, uma cidade no extremo sul de Gaza onde 1,5 milhão de palestinos estão aglomerados, a maioria deslocados pela violência no restante do território.

“Ouvimos uma forte explosão. Os escombros caíram nós. Havia pedaços de corpos nas árvores. Houve 22 ou 23 mártires, todos deslocados de Gaza”, disse Hussam Qazaat, entre as ruínas de Rafah.

A situação humanitária no território é muito difícil e a maioria da população, de 2,4 milhões de habitantes, está ameaçada pela fome, segundo a ONU.

Ao menos 18 pessoas morreram quando tentavam recuperar ajuda enviada por aviões no norte do território, informou o Hamas nesta terça-feira. Doze morreram afogadas no mar e seis durante tumultos, segundo o movimento islamista.

Israel controla de maneira rigorosa a entrada por via terrestre da ajuda, que chega a conta-gotas a partir do Egito. O cenário motivou diversos países a lançar mantimentos de aviões.

O Hamas pediu o “fim imediato” das operações aéreas e a abertura “rápida” dos acessos terrestres ao enclave.

“As pessoas morrem por uma lata de atum”, disse Mohamad Al Sabaawi, morador de Gaza que mostra o único pote que conseguiu recuperar.

Outro homem disse que arriscou a vida por um pote de feijão “para 18 pessoas”.

– Indignação de Israel –

O Conselho de Segurança da ONU aprovou na segunda-feira, pela primeira vez desde o início da guerra, uma resolução que pede um cessar-fogo, com 14 votos a favor e uma abstenção, l dos Estados Unidos, que até agora havia vetado três textos que incluíam o termo “cessar-fogo”.

A resolução, apresentada por membros não permanentes do Conselho, “exige um cessar-fogo imediato no mês do Ramadã”, o mês sagrado muçulmano que começou há duas semanas, e a “libertação imediata e incondicional de todos os reféns”.

“Esta resolução deve ser aplicada. O descumprimento será imperdoável”, afirmou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, em uma mensagem publicada na rede social X.

Israel, furioso com a postura dos Estados Unidos, cancelou a visita de uma delegação a Washington e afirmou que a abstenção na votação de prejudica seus esforços na guerra e para libertar os reféns.

“Não temos o direito moral de parar a guerra enquanto ainda houver reféns em Gaza”, disse o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, em visita aos Estados Unidos.

O Hamas, que governa Gaza, celebrou a aprovação da resolução e acusou a Israel de provocar o “fracasso” das negociações em Doha com os mediadores internacionais para uma trégua.

O líder do movimento islamista, Ismail Haniyeh, chegou nesta terça-feira ao Irã, aliado do movimento palestino e grande inimigo de Israel.

A guerra começou em 7 de outubro, após um ataque do Hamas contra o território de Israel, que deixou 1.160 mortos, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados divulgados pelas autoridades israelenses.

As milícias islamistas também sequestraram mais de 250 pessoas e, segundo Israel, 130 delas continuam em cativeiro em Gaza, incluindo 33 que teriam sido mortas.

Em resposta, Israel iniciou uma ofensiva que deixou mais de 32.400 mortos até o momento, segundo o Ministério da Saúde do governo do Hamas.

– Operações militares em hospitais –

No território palestino, os combates prosseguem sem trégua.

Dezenas de tanques e veículos blindados israelenses cercaram nesta terça-feira o hospital Nasser, em Khan Yunis, sul da Faixa, relataram várias testemunhas.

O Ministério da Saúde do território informou que as forças israelenses realizavam “operações violentas nos arredores, em preparação para um ataque”.

“Milhares de deslocados ainda estão no hospital”, acrescentou o ministério.

Desde o início do conflito, as forças israelenses executam operações em hospitais do território, alegando que procuram combatentes palestinos.

Uma operação deste tipo começou em 18 de março no hospital Al Shifa, na cidade de Gaza, o maior do território palestino, onde o Exército afirmou que matou mais de 170 combatentes.

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