O bombardeio israelense contra uma escola que abriga deslocados da guerra em Gaza matou pelo menos 93 pessoas neste sábado (10), segundo socorristas, e gerou condenações contra Israel, que garante que “terroristas” operavam no local.

Os bombardeios, cujo número de vítimas não pôde ser verificado de forma independente, estão entre os mais mortais desde o início da guerra em Gaza, desencadeada por um ataque do Hamas em solo israelense em 7 de outubro de 2023, segundo dados divulgados pelo movimento islamista palestino.

O Exército israelense informou que a escola bombardeada na Cidade de Gaza, no norte do território palestino, era usada pelo Hamas e pela Jihad Islâmica – outro grupo islamista -, e afirmou que tinha eliminado “pelo menos 19 terroristas” desses coletivos.

O Hamas denunciou um “crime horrível” e uma “escalada perigosa” depois de Israel ter concordado na sexta-feira, sob pressão internacional, retomar as negociações para uma trégua em 15 de agosto.

Vários países condenaram o ataque, entre eles Estados Unidos, França, Espanha, Reino Unido, Turquia, Arábia Saudita, Catar, Rússia e Irã, assim como a União Europeia (UE).

Situada no centro da Cidade de Gaza, a escola Al Tabin acolhia cerca de 250 deslocados, mulheres e crianças na maioria, segundo fontes dos meios de comunicação do governo do Hamas, no poder em Gaza desde 2007.

O porta-voz da agência de Defesa Civil do território, Mahmud Bassal, informou que houve vários bombardeios contra “dois andares da escola corânica Al Tabin e a mesquita [anexa] com três mísseis” e que o ataque causou “a morte de 93 pessoas, incluindo 11 crianças e seis mulheres”.

“Ainda há partes de corpos sem identificar”, acrescentou.

Os socorristas recuperaram cadáveres dos escombros de um prédio, segundo imagens da AFP, que mostram também familiares chorando ao lado de corpos de crianças envoltos em lençóis.

– ‘Onde está o mundo?’ –

“Todas as pessoas que estavam na mesquita morreram. O andar superior, onde dormiam mulheres e crianças, foi completamente queimado”, afirmou Abu Wassim, morador de Gaza.

“Onde está o mundo? Por que se mantém em silêncio diante destes crimes?”, perguntava-se outro morador.

A relatora especial das Nações Unidas para os Territórios Palestinos, a italiana Francesca Albanese, acusou Israel de “genocídio de palestinos” e o Catar pediu uma “investigação internacional urgente” sobre o que aconteceu.

O Irã, inimigo declarado de Israel, denunciou um “crime de guerra”.

Os Estados Unidos, que são o principal apoiador militar e diplomático de Israel, se declararam “profundamente preocupados” e pediram às autoridades israelenses “mais detalhes” sobre o bombardeio.

A Arábia Saudita também condenou o ataque e pediu o fim dos “massacres” em Gaza, enquanto a França denunciou “um número de vítimas civis intolerável” e pediu a Israel “respeito ao direito internacional”.

“Pelo menos dez escolas foram bombardeadas nas últimas semanas. Não há justificativa para estes massacres”, denunciou o alto representante para a diplomacia da UE, Josep Borrell, dizendo-se “horrorizado”.

Depois de mais de dez meses de guerra, as tropas israelenses seguem combatendo o grupo palestino, considerado uma organização “terrorista” por Israel, Estados Unidos e União Europeia.

– Retomada das negociações? –

O conflito fez disparar a tensão no Oriente Médio, em alerta especialmente depois das mortes do líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, em Teerã, e de um comandante do movimento islamista libanês Hezbollah em Beirute.

Israel só reivindicou o segundo ataque, mas o Hamas também o acusa da morte de Haniyeh e prometeu vingança.

O Irã e seus aliados – Hezbollah, Hamas e os rebeldes huthis do Iêmen – ameaçaram Israel com uma resposta “severa”.

Neste sábado, “em resposta” a um ataque israelense que matou na véspera um membro do Hamas em Sidon, no Líbano, o Hezbollah lançou drones carregados com explosivos contra uma base militar no norte de Israel.

Diante da perspectiva de uma conflagração regional, Catar, Egito e Estados Unidos pediram às duas partes na quinta-feira que voltem às negociações indiretas para estabelecer um cessar-fogo em Gaza e a libertação dos reféns levados pelo Hamas em seu ataque de outubro.

O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu aceitou participar destes diálogos. Ele, no entanto, é acusado por opositores, analistas externos e pelo Hamas de querer prologar a guerra para obter ganhos políticos.

O Hamas, que esta semana nomeou Yahya Sinwar como seu novo líder, ainda não deu sua resposta. Sinwar é apontado por Israel como o cérebro do ataque de 7 de outubro, que desatou o conflito.

Naquele dia, os combatentes islamistas mataram 1.198 pessoas, a maioria civis, e fizeram outras 251 reféns, segundo dados israelenses.

No entanto, o Exército israelense estima que 111 reféns permaneçam em Gaza, incluindo 39 que dá como mortos.

Em represália, Israel prometeu aniquilar o Hamas e lançou uma campanha militar contra Gaza que já deixou 39.790 mortos, segundo o Ministério da Saúde do grupo islamista.

Em Israel, manifestantes voltaram a protestar neste sábado em Tel Aviv e Haifa contra o governo de Netanyahu e para exigir um acordo que permita a libertação dos reféns.

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