O conselheiro da Casa Branca para a Segurança Nacional, John Bolton, defendeu nesta terça-feira (23) a saída anunciada pelos Estados Unidos de um tratado sobre armas nucleares, ao fim de uma série de reuniões de alto nível em Moscou.

O presidente americano, Donald Trump, anunciou no sábado a sua decisão de retirar seu país do tratado de armas nucleares de médio alcance INF (Intermediate Nuclear Forces Treaty), assinado durante a Guerra Fria pelo ex-presidente Ronald Reagan (1981-1989).

Ao término de uma série de “discussões muito completas e produtivas”, entre elas uma reunião de uma hora e meia com o presidente russo, Vladimir Putin, Bolton justificou esta decisão de Washington ao qualificar o texto de um “tratado bilateral da Guerra Fria em um mundo multipolar”.

O conselheiro americano também apontou para Coreia do Norte e China, que “entre um terço e metade dos mísseis seria afetado pelo INF se fizessem parte” deste.

Além disso, os Estados Unidos acusam a Rússia de violar “há muitos anos” o tratado, o que Moscou nega.

O tratado INF foi assinado em 1987 pelo último dirigente da União Soviética, Mikhail Gorbachev, e pelo então presidente americano, Ronald Reagan.

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O governo de Trump se queixa da mobilização por parte de Moscou do sistema de mísseis 9M729, cujo alcance, segundo os Estados Unidos, supera os 500 quilômetros, violando o texto do INF.

O tratado INF, que suprime o uso de uma série de mísseis de 500 a 5.000 km de alcance, havia acabado com a crise desatada nos anos 1980 pela mobilização dos SS-20 soviéticos com ogivas nucleares na Europa oriental, e mísseis americanos Pershing na Europa ocidental.

Mas, nesta terça-feira, Bolton afirmou que “o tratado é ignorado pelos outros países” e assegurou que uma saída americana não teria consequências graves no sistema de segurança mundial.

As reações internacionais, por unanimidade, apontaram no sentido fazer um pedido aos Estados Unidos para que permaneça no tratado INF.

A União Europeia estimou na segunda-feira que Washington e Moscou “têm que continuar um diálogo construtivo para preservar esse tratado”, considerando que é “crucial para a UE e a segurança mundial”, enquanto Pequim pediu aos Estados Unidos que “pensem duas vezes”.

– Ingerência –

John Bolton, conhecido por suas posições firmes em política externa, se reuniu na segunda e nesta terça-feira com vários responsáveis russos de alto escalão, entre eles o chefe da diplomacia Sergei Lavrov, o ministro da Defesa Serguei Shoigu, e o secretário do Conselho de Segurança Nacional russo, Nikolai Patruchev.

Segundo Bolton, essas reuniões se centraram, sobretudo, em conseguir um próximo encontro entre Trump e seu homólogo russo em Paris, à margem da comemoração do fim da I Guerra Mundial, em 11 de novembro.

Também discutiram o conflito na Síria e a ingerência eleitoral.

“Discutimos a nossa preocupação contínua pela interferência russa nas eleições e o motivo pelo qual foi particularmente prejudicial para as relações russo-americanas”, indicou. Bolton acrescentou que Washington estava “vigiando as possíveis ingerências” nas eleições de meio de mandato em novembro.

Segundo Bolton, é, contudo, “impossível que o resultado (da eleição de 2016) tenha sido impactado” pela suposta interferência da Rússia. “Se quiserem falar de esforços de influência maciça, olhem o que a China faz. Isso coloca a Rússia em um segundo plano”, lançou.


– ‘Diálogo direto’ –

Putin fez um pedido para que “continuem um diálogo direto”, declarou em sua reunião com Bolton, na qual também falou em “buscar pontos de convergência entre Rússia e Estados Unidos”.

Donald Trump e Vladimir Putin se reuniram em uma primeira cúpula bilateral em Helsinque em julho. Naquele momento, o presidente americano foi muito criticado em seu país por ter se mostrado conciliador com seu contraparte russo.

Sobre a Síria, Bolton afirmou nesta terça que queria “evitar uma catástrofe humanitária em Idlib”, último reduto rebelde no país, sob ameaça de uma ofensiva do regime de Damasco, apoiado militarmente pela Rússia.


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