O presidente Jair Bolsonaro afirmou, na manhã desta sexta-feira (19), que dizer que há brasileiros que “passam fome é uma grande mentira”, para horas depois relativizar suas declarações, ao afirmar que “uma pequena parte” sim, passa fome.

O Brasil “é um país rico para praticamente qualquer plantio; falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira (…) Você não vê gente pobre nas ruas com um físico esquelético como a gente vê em alguns outros países pelo mundo”, afirmou durante um café da manhã com jornalistas estrangeiros em Brasília.

“Falar que se passa fome no Brasil é um discurso populista que tenta ganhar simpatia popular, nada mais além disso”, acrescentou.

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) apontou em setembro passado que os programas de combate à fome no Brasil se estagnaram, já que o número de pessoas que passam fome diminuiu apenas de 5,2 milhões em 2014 para 5,1 milhões em 2017.

As declarações de Bolsonaro foram imediatamente questionadas em todas as redes sociais e, horas depois, em outro evento, o presidente se irritou ao relativizar sua fala anterior.

O Brasil “é um país em que a gente não sabe por que uma pequena parte passa fome e outros passam mal, ainda”, afirmou durante evento pelo Dia Nacional do Futebol, em Brasília.

Bolsonaro se irritou ao ser perguntado por uma jornalista se estava voltando atrás no que havia dito mais cedo.

“Se for entrar em detalhes, filigranas, eu vou embora (..) Eu não estou vendo nenhum magro aqui. Temos um problema alimentar no Brasil, temos. Não é culpa minha, vem de trás. Estou tentando resolver”.

Outro relatório da FAO, de outubro de 2018, detalha que o número de pessoas vítimas do flagelo no Brasil havia caído de 10,6% da população (cerca de 19 milhões de pessoas) no começo dos anos 2000 para menos de 2,5% no período de 2008 a 2010. O organismo destaca o papel dos programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, nesses avanços.

Mas Bolsonaro parece querer adotar outro caminho, como ele disse, quando questionado sobre declarações do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O parlamentar tinha dito, no último domingo, que o presidente “não tem uma preocupação, uma palavra para o pobre brasileiro”.

Para Bolsonaro, o papel do Executivo e do Legislativo é “facilitar a vida do empreendedor, de quem quer produzir, e não fazer esse discurso voltado para a massa da população”.

“O que temos que fazer, no poder Executivo e no Legislativo (…) é facilitar a vida do empreendedor, de quem quer produzir e não fazer esse discurso (…) que nos conduziria a uma situação semelhante à Venezuela, onde o [ex-presidente Hugo] Chávez implementou muito bem o socialismo” e levou seu país “a uma situação de miséria que se encontra hoje em dia”, disse Bolsonaro.

“É só as autoridades políticas, nós do Legislativo e do Executivo, não atrapalharem o nosso povo e essas franjas de miséria por si só acabam no Brasil, porque nosso solo é muito rico para tudo o que você possa imaginar”, acrescentou.

O Brasil sofreu em 2015 e 2016 dois anos de uma grave recessão, seguidos por outros dois anos e meio de fraco crescimento e tem atualmente 13 milhões de desempregados.