Bolsonaro verá como russos e ucranianos se armam para trazer ensinamentos ao Brasil

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A criança segura, com seus dedos minúsculas, uma bala de espingarda. Enquanto coloca o projétil dentro do tambor de disparos, tenta não tremer as mãos. Seu olhar está fixo na arma, assustada, como se sua vida dependesse daquele tiro. E, o pior: depende. Do outro lado, uma senhora, de 79 anos, rosto trazendo as marcas enrugadas de uma longa vida. O garoto fecha um olho enquanto mira seu alvo com o outro. Encosta a arma em seu peito e atira. Recebe palmas dos outros jovens, adultos e crianças que assistem apreensivos, entre eles, seu treinador. A cena está ocorrendo em Mariupol, na região de Donetsk, Ucrânia, onde os cidadãos, nos últimos dois finais de semana, estão recebendo treinamento para combate, criados e administrados pelo governo ucraniano e por grupos paramilitares privados que integram o plano estratégico de defesa do país no caso de uma possível invasão pela Rússia.

Esse clima e beligerância, no entanto, não foi criado agora em meio a um dos momentos mais sombrios das escaramuças entre a Ucrânia e os russos. Como o país tem uma posição estratégica entre as duas potencias mundiais (EUA e Rússia), o governo ucraniano sempre acreditou ser importante que a população soubesse não só atirar, mas se defender de invasões. O objetivo não é superar o poderio militar russo, e, sim, criar uma forma de resistência civil. A Ucrânia parece ter tirado lições grandiosas das guerras combatidas nas últimas duas décadas com os Estados Unidos no Iraque e no Afeganistão, quando guerrilheiros forneceram resistência duradoura em face de um poder de fogo americano muito superior.

Na prática, jovens também aprendem como segurar fuzis, rifles e outras armas de grande porte por meio de papelões, até estarem totalmente preparados para segurar e atirar com uma arma de verdade. Uma matéria do jornal The New York Times mostra que, pelo menos, desde dezembro de 2021, há treinamentos militares durante os finais de semana para a população. A Rússia, que nega qualquer vontade de ir para a guerra, começou a concentrar suas tropas na divisa em novembro e hoje conta com mais de 100 mil soldados prontos para atacar. “Não há sinais de que Putin tenha a intenção de aliviar as tensões. Acreditamos que uma ação militar importante poderia ocorrer a qualquer momento”, afirmou o porta-voz do Pentágono, John Kirby, após o telefonema entre o presidente americano, Joe Biden e o presidente russo, Vladimir Putin.

Biden não foi o único que, sem sucesso, tentou convencer Putin a retirar as tropas posicionadas nas fronteiras com a Ucrânia, e terminar com o ambiente de terror que o mundo presencia nas últimas semanas. O presidente francês, Emmanuel Macron, também viajou até a Russia, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, tem ligações marcadas com Biden, o chanceler alemão, Olaf Scholz, é esperado esta semana em Kiev e Moscou.

E hoje, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, também desembarcou em Moscou para um encontro com Putin. No momento mais crítico do conflito, ele até poderia ajudar na pacificação da discórdia entre Rússia e Ucrânia – o que é quase impossível de acontecer, visto que Bolsonaro nunca teve perfil de mediador. Pelo contrário, é considerado um pária internacional. O mais provável é que ele fique deslocado num mundo onde a diplomacia e a inteligência é o mínimo que pode-se esperar de uma autoridade de um País como o Brasil.

Bolsonaro, na verdade, foi um fiasco em todas as viagens internacionais que já fez. Comeu pizza na calçada em Nova York por não ter se vacinado contra a Covid e por isso não foi aceito nos restaurantes. Na reunião do G-20, em Roma, precisou conversar com garçons italianos por não saber falar língua alguma, fora o péssimo português que ele ostenta. Além do mais, ele não é os ex-presidentes Michel Temer ou o Fernando Henrique, por exemplo, que tinham postura de estadistas.

Uma coisa, porém, é certa: se ele visitasse a Ucrânia, com a população armada, ele se sentirá em casa, pronto para trazer novos aprendizados para o Brasil. Mas como só vai a Moscou visitar Putin, que exigiu que ele fizesse cinco diferentes testes contra Covid, é possível que faça mais um papelão por lá: seja obrigado a deixar seu sangue e DNA na Rússia, coisa que Macron se recusou a fazer. Bolsonaro passa vergonha aqui e lá fora, expondo a imagem do País ao ridículo.